Além das mulheres , os LGBTQIA+ afegãos preocupam a comunidade internacional durante a tomada de poder por parte do grupo fundamentalista do Talibã. Fugas em massa, assassinatos em praça pública e falta de ajuda internacional preocupam ativistas e muçulmanos fora do país. É o caso do escritor e ativista Nemat Sadat, que procura organizar um resgate da população LGBTQIA+ do país e da capital, Cabul.
Em entrevista, Nemat diz que está seguro em San Diego, nos Estados Unidos, mas continua muito preocupado com a situação dos LGBTs no Afeganistão, pois muitos integrantes da comunidade moram em Cabul e podem ser mortos pelo Talibã a qualquer momento. “Antes da chegada deles já era difícil, muitos sofriam violências, tinham casamentos arranjados ou se suicidavam, outros muitos ficaram órfãos por causa da guerra”, conta.
Ele, um dos primeiros afegãos a ser da comunidade LGBT de forma aberta, lembra que, nos 20 anos de democracia, os LGBTs eram invisíveis. “Fomos criminalizados, mesmo com um governo democrata, mas com o passar dos anos e o crescimento da luta mundial, tivemos mais aliados héteros, mas sob o Talibã, é impossível. Muitos fingiam ser LGBTs para enganar quem realmente é. Eu conheço duas pessoas que sobreviveram a ataques de extremistas, quando foram enganados em redes sociais e quase morreram”, afirma.
Nemat conta que muitos estavam bem apesar da situação, com a chegada do Talibã, todos estão com medo. “Nos últimos dias, o Talibã chega de porta em porta, dos que trabalham com norte-americanos ou com qualquer país do ocidente, e matam porque os consideram ‘traidores’. Muitos LGBTs trabalham com esses governos. Começaram a procurar esses ‘traidores’ em Cabul agora, o que assusta, porque a população LGBT em Cabul é a maior no país”, alerta.
O escritor conta que há uma estimativa de que pelo menos 1 milhão de pessoas LGBTs no país e que todos estão preocupados em serem mortos ou presos. “É uma situação muito precária, os LGBTs estão aterrorizados, recebo mensagens e ligações de pessoas lá. Eu entendo que se eu estivesse nessa situação, eu faria igual. O medo maior é de que o Talibã faça o mesmo que os nazistas fizeram com LGBTs porque já fizeram o mesmo de 1996 a 2001, antes dos americanos entrarem no poder”, diz.
“Todo o mundo está olhando e vendo cada movimento, filmando, mostrando a crise. Mas penso que quando as pessoas esquecerem o que está acontecendo no Afeganistão, o Talibã vai fazer o que quiser. O meu objetivo é tirar o máximo de LGBTs de lá em pelo menos três dias porque a atenção pode diminuir e o Talibã pode atacar mais.”
Nemat sabe que não é possível tirar todos de lá, por isso, luta para a mudança de leis e da sociedade afegã. “Só porque o Talibã chegou, não vou parar. Todo dia pessoas LGBTs nascem, não tem como tirarmos todas. Então o que podemos fazer agora é tirar o máximo de pessoas agora”, avisa.
O escritor viralizou nos últimos dias por conta de um tweet em que procura divulgar a causa LGBT no país e arrecadar ajuda para tirar afegãos do país. Ele agradeceu especificamente o Brasil por compartilhar o tweet dele. “Seu país é tão longe do Afeganistão, mas eu escrevi uma postagem e viralizei aí, foi incrível”, comemora com com a esperança de dias melhores.
As informações são do IG