Entenda o que é o Talibã e como o grupo retomou o poder no Afeganistão

Em menos de quatro meses, os insurgentes do Talibã tomaram o controle de quase todo o Afeganistão e voltaram à capital, Cabul, 20 anos após serem expulsos pelas forças ocidentais lideradas pelos Estados Unidos. As maiores cidades do país já foram controladas pelo grupo extremista. Com informações do G1.


1. O que é o Talibã?

Talibã significa “estudantes” na língua pashto. Em 1994, ex-guerrilheiros conhecidos como mujahidin que tinham participado do confronto com forças soviéticas no Afeganistão (inclusive com o apoio dos Estados Unidos), formaram o grupo de orientação sunita.

Desde a criação, o objetivo do Talibã era impor uma lei islâmica, que eles interpretavam de sua maneira, no país. O Talibã conseguiu esse objetivo rapidamente: em 1996, eles capturaram Cabul.

Cansada das lutas internas após a expulsão dos soviéticos, a população afegã, em geral, deu as boas-vindas ao Talibã quando eles apareceram pela primeira vez.

Sua popularidade inicial se deveu em grande parte ao sucesso em reduzir a corrupção, coibir a criminalidade e trabalhar para tornar seguras as estradas e áreas sob seu controle, estimulando assim o comércio.

De 1994 a 1996, o Talibã ganhou controle exclusivo sobre a maior parte do país, e o Afeganistão foi proclamado um emirado islâmico.

Nos cinco anos seguintes, o grupo controlou o Afeganistão com uma interpretação dura da sharia, a lei islâmica.

2. O que eles defendem?

Quando os talibãs tomaram o Afeganistão nos anos 1990, as mulheres não podiam trabalhar nem estudar e tinham que ficar confinadas em casa. Era obrigatório, ainda, que vestissem apenas a burca — uma mortalha que só deixa os olhos à mostra.

Além disso, os homens tiveram que deixar a barba crescer.

Filmes e livros ocidentais eram proibidos, e artefatos culturais vistos como blasfêmias sob o Islã foram destruídos, como as estátuas de Buda de Bamiyan.Alguns afegãos continuaram a acessar produtos da cultura ocidental em segredo, correndo o risco de punição extrema.

3. O Talibã não tinha sido derrotado?

Os Estados Unidos acreditavam que Osama bin Laden estava no Afeganistão, e que o regime talibã permitia que a Al-Qaeda, a organização terrorista de Bin Laden, encontrava refúgio para operar no país. Em 11 de setembro de 2001, a Al-Qaeda executou múltiplos atentados em solo norte-americano, que mataram milhares de pessoas.

Em resposta, os EUA, governados por George W. Bush, lideraram uma coalizão que invadiu o Afeganistão em novembro de 2001, com pesados ataques aéreos. Os americanos acreditavam que, além de esconder membros da Al-Qaeda, o Talibã financiava o grupo terrorista responsável pelos ataques de 11 de setembro.

As tropas talibãs jamais deixaram de existir, apesar de enfraquecidas. Homens-bomba fizeram vítimas ao longo dos anos, e missões pontuais das forças ocidentais tentaram combater os resistentes.
Barack Obama, durante sua gestão, prometeu tirar os militares americanos do país.

O fundador e líder original do Talibã foi o mulá Mohammad Omar, que se escondeu depois que o Talibã foi derrubado. Tão secreto foi seu paradeiro que sua morte, em 2013, só foi confirmada dois anos depois por seu filho.

4. Como eles voltaram a tomar o controle?

A estratégia dos EUA para o Afeganistão era fortalecer o governo e o exército do país para que eles mesmo evitassem que o Talibã voltasse a tomar o poder.

Ao longo de duas décadas, os EUA mobilizaram 98 mil militares no país e investiram US $83 bilhões para treinar e equipar as forças de segurança afegãs.

Donald Trump, um crítico da presença militar dos EUA no Afeganistão, decidiu retirar das tropas do país. Em 2020, o governo norte-americano, então sob gestão de Trump, assinou um acordo com o Talibã que previa a retirada dos militares dos EUA do país.
Houve uma troca de prisioneiros, e o Talibã se comprometia a proibir a Al-Qaeda no Afeganistão.

Em abril, o presidente norte-americano, Joe Biden, comprometeu-se a manter a retirada total de seus soldados, começando em maio e terminando em setembro.

Já em maio começaram as manobras dos talibãs, que, sem alarde, arregimentaram 85 mil combatentes, de acordo com estimativas recentes da Otan — mais do que tinham 20 anos atrás.

Em julho, os insurgentes já tinham tomado metade do território afegão. No início de agosto, praticamente todas as grandes cidades caíram para os extremistas.

O Talibã disse no início deste ano que queria um “sistema islâmico genuíno” para o Afeganistão que fornecesse disposições para os direitos das mulheres e das minorias, em consonância com tradições culturais e regras religiosas. Há, no entanto, sinais de que o grupo já começou a proibir as mulheres de trabalhar em algumas áreas.

5. Quem lidera o grupo?

Mawlawi Hibatullah Akhundzada foi nomeado comandante supremo do Talibã em maio de 2016, depois que o mulá Akhtar Mansour foi morto em um ataque de drones nos Estados Unidos.

Akhundzada trabalhou como chefe dos tribunais da sharia na década de 1990. Como comandante supremo do grupo, Akhundzada é responsável pelos assuntos políticos, militares e religiosos.

6. Como fica o Afeganistão agora?

Os Estados Unidos e as Nações Unidas já impuseram sanções ao Talibã, e a maioria dos países mostra poucos sinais de que reconhecerá o grupo diplomaticamente.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no início do mês que o Afeganistão corria o risco de se tornar um estado pária se o Talibã tomasse o poder.

Outros países, como a China, começaram a sinalizar cautelosamente que podem reconhecer o Talibã como um regime legítimo.