Veruska Donato, repórter da Globo, anunciou nesta quarta-feira (3) que está deixando a emissora após 21 anos. De acordo com a jornalista, o ódio que ela recebeu ao publicar uma foto ao lado do padre Julio Lancellotti fez com que ela ficasse muito chateada e resolvesse procurar a paz.
“Há dois meses postei no Instagram uma foto e um elogio ao padre Julio Lancelotti e o trabalho que ele faz na cracolândia, recebi dezenas de ofensas e xingamentos, alguns apaguei. Eu já criei uma couraça em relação às redes sociais, mas o padre? Ah, não. O padre Julio é símbolo de afeto, é puro amor. Esse ódio mexeu comigo”, começou Veruska.
“Onde mora a sua paz? Volto pra casa, volto pra Campo Grande, a cidade onde nasci, cresci, me formei e deixei sem me despedir direito, encantada que estava com a possibilidade de trabalhar em Brasília. É a vida cobrando o que é valioso. Precisei fazer escolhas. Deixo vocês e deixo a Globo, e para São Paulo que me acolheu com tanto amor deixo meu bem mais caro”, finalizou.
Veja o relato completo:
Adeus! Sou um misto de ansiedade, saudade, alegria e tristeza. Nos últimos anos ouvi amigos queridos aconselharem a “relaxar”, “deixar pra lá”, “as coisas agora são assim “, “um dia você acostuma ou adoece”. Eu adoeci. Adoeci de saudades da família, da segurança de um lar, de medo, medo de morrer, de ver pessoas queridas morrerem. Vi ,ouvi e contei histórias de tragédias, filhos que ficaram órfãos, pais que enterraram seus filhos, vi o desamparo e o desespero de quem foi obrigado a combater a doença. A gente se perguntava: Quando vai passar? A covid sucumbe a vacina, mas uma outra doença, essa antiga, mostra a cara de maneira cruel, a fome. Fiz várias reportagens sobre o quanto ela castiga, o quanto resiste. Descobri que diferente da fome, eu não sou resistente, diante dela me senti impotente. Há dois meses postei no Instagram uma foto e um elogio ao padre Julio Lancelotti e o trabalho que ele faz na cracolândia, recebi dezenas de ofensas e xingamentos, alguns apaguei. Eu já criei uma couraça em relação às redes sociais, mas o padre? Ah, não. O padre Julio é símbolo de afeto, é puro amor. Esse ódio mexeu comigo. Então lembrei da pergunta que a amiga Maria Jose Sarno, nossa querida Zezé fez: onde habita a sua alma ? Onde mora a sua paz? Volto prá casa, volto prá Campo Grande, a cidade onde nasci, cresci, me formei e deixei sem me despedir direito, encantada que estava com a possibilidade de trabalhar em Brasília. Volto prá conquistar a minha mãe com quem tive muitos conflitos, volto para as amigas queridas da infância, para ver meus sobrinhos crescerem, para rir com meus primos das brincadeiras na fazenda dos nossos avós. Volto pra capital morena, das árvores, dos Ipês, do arroz com pequi, da guavira, da galinha com guariroba, onde a gente come churrasco de cupim e costela, volto prá terra que dá tomate em rama, manga docinha e goiaba no pé. Volto prá viver a história com um antigo amor que rompi ao partir apressada. É a vida cobrando o que é valioso. Precisei fazer escolhas. Deixo vocês e deixo a globo, e para São Paulo que me acolheu com tanto amor deixo meu bem mais caro. Carolina fica prá estudar, deixo pra SP o meu melhor. #fui
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Com informações da IstoÉ