Prisão de Milton Ribeiro abala discurso contra corrupção de Bolsonaro

A campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) sofreu um abalo nesta quarta-feira, faltando pouco mais de três meses para a eleição, com a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. O ex-integrante do governo é alvo de uma investigação da Polícia Federal que apura suspeitas de corrupção e tráfico de influência na pasta que comandava. O episódio foi considerado um “desastre” por interlocutores do titular do Planalto, que avaliaram o caso como uma “tempestade perfeita”, pois ao mesmo tempo em que municia adversários contra o presidente, enfraquece o discurso de combate à corrupção que o elegeu há quatro anos.

Ribeiro foi preso por volta das 7h, em Santos, onde voltou a morar desde que deixou o governo, em março. Ele deve participar hoje de audiência de custódia via videoconferência. A investigação apura denúncia de que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos — também presos — cobravam propina para facilitar a liberação de recursos do MEC para prefeituras. O caso corre sob sigilo e não ficaram totalmente claras as motivações para a decretação da prisão preventiva. O advogado do ex-ministro, Daniel Bialski, confirmou que a mulher do antigo chefe do MEC, Myrian Ribeiro, recebeu R$ 60 mil de uma pessoa ligada a Moura. O advogado, contudo, afirmou ao GLOBO que o depósito é referente à venda de um carro e que não há “nada de errado”.

A estratégia adotada por integrantes do governo foi a de tentar blindar Bolsonaro, com o discurso de que, além de ter demitido o então ministro quando o caso foi revelado, ele não agiu para proteger o aliado das investigações. Há três meses, porém, o presidente defendeu Ribeiro das acusações e chegou a dizer que “botava a cara no fogo” por ele. Ontem, mudou o tom e admitiu que o caso “vai respingar” nele.

Atrás nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro vinha apostando nos escândalos de corrupção dos governos do PT para se contrapor ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje lidera a corrida eleitoral. A expectativa no entorno do presidente, era de que essa essa estratégia poderia ajudar a reverter o cenário, mas aliados agora admitem que a prisão deve ter impacto negativo — hoje será divulgada uma nova rodada do Datafolha, o que pode acrescentar ainda mais pressão na campanha à reeleição.

Em declaração à colunista Bela Megale, do GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, admitiu que a prisão representa um revés na corrida do titular do Planalto por um novo mandato, mas voltou a recorrer à comparação com o governo petista para tentar descolar o pai das denúncias envolvendo o ex-chefe da pasta da Educação.

“Óbvio que não é algo positivo, mas o presidente Bolsonaro diferencia sua postura quando o ministro é afastado e as investigações acontecem normalmente. Essa postura é contrária ao que acontecia nos governos passados, onde havia corrupção generalizada. Dilma tentou usar a estrutura de poder para nomear Lula para um ministério e blindá-lo”, disse o senador.