Pesquisas da UFAM estudam mandioca, casca de cupuaçu e babaçu como fontes de energia elétrica

Você já ouviu falar em biomassa? São matérias orgânicas de origem vegetal ou animal usadas com a finalidade de produzir energia. No Brasil, há vegetais com grande potencial para a produção de energia elétrica ou térmica como cana de açúcar, azeite de dendê (óleo de palma), buriti, mandioca, babaçu, cupuaçu, andiroba, entre outros. Pensando nisso, o Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (CDEAM/Ufam) desenvolve estudos sobre diferentes biomassas, a exemplo da mandioca, casca do cupuaçu, casca de castanha do Brasil e o babaçu como fontes de energia elétrica ou térmica. São alternativas para o abastecimento de energia em comunidades isoladas, sobretudo, na região amazônica.

De acordo com o diretor do CDEAM/Ufam, professor Rubem Cesar Rodrigues Souza, para falar da relevância do uso desses recursos é preciso entender que energia é meio e não fim, ou seja, não basta fornecer eletricidade é preciso ter uma estratégia clara de desenvolvimento local. “Ao se produzir energia elétrica com biomassa se gera emprego próximo ao local de consumo da energia, ajudando a fixar o homem no campo, com dignidade e com perspectiva de desenvolvimento local. Além disso, a produção local de energia evita o custo de transporte de combustível diferentemente do que acontece com o óleo diesel. É importante lembrar também que o uso de recursos de biomassa contribui para reduzir o aquecimento global e seus danos consequentes”, destacou.

O professor lembrou ainda que a viabilidade econômica depende de cada projeto. “De modo geral são necessárias políticas públicas para viabilizar essas soluções em larga escala, dado que a geração de energia elétrica à óleo diesel usada no interior do estado é subsidiada”, enfatizou.

Mandioca

A mandioca pode ser utilizada para produção de bioetanol (álcool). O bioetanol pode ser queimado diretamente para produzir calor ou ser usado em motores à álcool, tanto para fins automotivos quanto em grupos geradores para geração de eletricidade. O vinhoto, subproduto da produção de bioetanol, pode ser utilizado para recuperar as características do solo onde é plantada a mandioca, ou então, para produção de biogás. O biogás, por sua vez, pode ser utilizado para acionar um fogão a gás, uma geladeira a gás ou então, um grupo gerador à gás e produzir eletricidade.

Casca de Cupuaçu

A casca do cupuaçu pode ser utilizada em um equipamento chamado de gaseificador. A casca é colocada no equipamento que, a partir da queima controlada, produzirá um gás combustível. Esse gás combustível pode ser queimado diretamente para produzir calor ou então, após passar por um sistema de filtragem, acionar um grupo gerador e produzir eletricidade.

Babaçu

O babaçu pode ser separado em dois tipos de materiais energéticos, a casca e o óleo. A casca pode ser queimada em um gaseificador para produção de eletricidade. Por sua vez, o óleo pode ser utilizado na produção de biodiesel, que pode ser utilizado para produção de eletricidade em grupos geradores à diesel ou ser queimado diretamente para produção de calor.

Fórum Permanente de Energia da Ufam

A partir do histórico de ações na área de energia, passando por projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), organização de eventos técnicos científicos e formação de recursos humanos, o CDEAM, em março de 2019, instituiu o Fórum Permanente de Energia da Ufam (FPE/Ufam). O objetivo foi estabelecer parcerias e propor políticas públicas na área. Além da Ufam, que o preside, o Fórum, até a presente data, é constituído pelos seguintes membros: Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), Banco do Brasil, Banco da Amazônia (BASA), Comando Militar da Amazônia (CMA), Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), Governo do Estado do Amazonas, Companhia de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (CIAMA), Prefeitura de Manaus, Associação Amazonense dos Municípios (AAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), Amazonas Distribuidora de Energia, GT Amazonas, Companhia de Gás do Amazonas (CIGÁS), Greenpeace, WWF-Brasil, Instituto Mamirauá, Instituto Energia e Desenvolvimento Sustentável (INEDES), Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE).

O Fórum gestou a lei estadual nº 5.350, de 22 de dezembro de 2020, que estabelece a política estadual para incentivar as fontes renováveis de energia e as tecnologias de eficiência energética. De acordo com o presidente do FPE/Ufam, professor Rubem Cesar Rodrigues Souza, a lei, além de diversos mecanismos para atingir seus objetivos, inclui a criação do Fundo Estadual de Desenvolvimento Energético.

“A proposta de lei de criação do Fundo Estadual de Desenvolvimento Energético foi encaminhada ao Governo do Estado e há expectativa de que ainda no ano de 2021 seja submetida para apreciação da Assembleia Legislativa do estado do Amazonas. Outra contribuição importante do FPE/Ufam foi o apoio na elaboração de guias para concepção de políticas energéticas no âmbito municipal. Esses guias se constituem em instrumento importante para tirar a administração pública municipal da condição de coadjuvante e alçá-la ao patamar de protagonista no contexto do desenvolvimento energético estadual”, destacou o presidente.

O professor disse também que o Fórum atua de forma efetiva no cumprimento de seus objetivos. “O FPE/Ufam está ciente que ainda há um extenso e árduo trabalho a ser feito no sentido não somente de conceber políticas públicas para o desenvolvimento do setor energético estadual, mas sobretudo, dar suporte para que tais políticas atinjam os resultados esperados”, finalizou.

Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico (CDEAM)

Criado em junho de 2004 pela Resolução nº 009/2004 do Conselho Universitário da Ufam, o CDEAM é um órgão suplementar da Ufam, ao qual estão ligados dois grupos de pesquisa cadastrados junto ao CNPq denominados de Tecnologias Alternativas e Eficiência Energética. Com a missão de cultivar o uso racional dos recursos energéticos naturais visando o desenvolvimento socioeconômico regional, valorizando as parcerias e a visão de ser um centro de excelência internacional para capacitação, produção e aplicação de conhecimentos em energia na Amazônia, a sua trajetória tem origem em janeiro de 1999, com o Núcleo de Eficiência Energética (NEFEN), criado pelo Conselho Departamental da Faculdade de Tecnologia da UFAM, a partir de proposta apresentada pelo professor Rubem Cesar Rodrigues Souza.

Em dezembro de 2001, o Ministério de Minas e Energia, reconhecendo a competência do corpo técnico do NEFEN, realizou o Convênio 012/2001 – MME, tendo a Fundação de Apoio Institucional Rio Solimões (UNISOL) como interveniente e o NEFEN junto a Ufam como executor. O objetivo do convênio consistiu na implantação de um Centro de Formação de Recursos Humanos em Fontes Alternativas de Energia. A função do Centro de Formação era apoiar as ações do Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios (PRODEEM).

Dessa forma, foi construída uma infraestrutura que apoiou o processo de capacitação e formação de recursos humanos na área de fontes renováveis de energia. A estrutura ainda existente vem atendendo às atividades de ensino em nível de graduação, pós-graduação e projetos de P&D. Outro marco importante do NEFEN foi viabilizar a possibilidade de aporte de recursos para ações de P&D na área de energia, no âmbito dos recursos da Lei de Informática. Tal ação consistiu no credenciamento do NEFEN junto ao Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento na Amazônia (CAPDA) e aprovação pelo mesmo do Programa Prioritário intitulado Programa de Desenvolvimento Energético Amazônico (PRODEAM), com abrangência em toda a Amazônia Ocidental.

O PRODEAM, em seu início, teve como um de seus objetivos a criação do Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico (CDEAM), na condição de órgão suplementar da Ufam.

Com informações da assessoria