Jornalista do Real Time 1 rebate acusação de fake news da SEMCOM com provas do próprio Portal da Transparência da Prefeitura

Prefeitura de Manaus tenta desmentir denúncia, mas jornalista responde com documentos oficiais
Prefeitura de Manaus tenta desmentir denúncia, mas jornalista responde com documentos oficiais

Na tentativa de jogar luz sobre os gastos com publicidade da Prefeitura de Manaus, o portal Real Time 1 publicou uma matéria que detalha o pagamento de R$ 6,47 milhões a blogs, sites e portais entre os dias 14 de fevereiro e 1º de abril de 2025, conforme dados do Portal da Transparência. O levantamento inclui 165 contratos com veículos de comunicação, muitos deles com audiência praticamente nula, redes sociais abandonadas e influência digital questionável.


A denúncia gerou reação imediata da Secretaria Municipal de Comunicação (SEMCOM), que acusou o portal de publicar informações falsas e sugeriu até a prática de fake news, crime previsto em lei. O que a gestão não esperava era que a resposta viria com firmeza e provas concretas: vídeos, gravações de tela, e a planilha completa com os dados coletados diretamente do site oficial da própria Prefeitura.

“Onde estão as informações falsas, secretária?”

Em vídeo publicado pelo Real Time 1, a jornalista responsável pela apuração desmonta, ponto a ponto, a nota da SEMCOM. Ela mostra que o levantamento foi feito a partir de consultas diretas no Portal da Transparência, ferramenta pública de acesso aos dados financeiros da administração municipal.

Para obter os valores, foi necessário mapear agências terceirizadas que repassam os recursos aos veículos — um processo complexo que exigiu mais de uma semana de apuração e análise manual de cada contrato e liquidação.

“É importante lembrar que transparência não é um favor, é obrigação legal. E quem levantou essa planilha fomos nós, justamente porque a Prefeitura não entrega os dados de forma clara”, destacou a jornalista.

Pagamentos sem critério técnico

A investigação não se concentra em quem ganhou mais ou menos, mas na ausência de critérios técnicos objetivos para a escolha dos veículos pagos. O raciocínio é simples: se a Prefeitura quer divulgar campanhas públicas com verba do contribuinte, é esperado que os canais escolhidos tenham alcance real e capacidade de atingir a população.

Entre os maiores beneficiados aparecem:

  • Portal Banzeiro News — R$ 377 mil

  • Diversos blogs menores, com valores variando entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por campanhas de poucos dias

Alguns portais receberam por campanhas como “Educação Presente”, “Maio Laranja” e “Combate à Sífilis”, veiculadas por três a cinco dias apenas, com valores que ultrapassam os R$ 23 mil.

Transparência invertida: quando o fiscal vira réu

A jornalista ainda relembra que desde 2021 o portal Real Time 1 tenta, via Lei de Acesso à Informação, obter uma relação clara dos gastos da SEMCOM com mídia paga, mas a resposta da Prefeitura foi evasiva ou inexistente. Só com trabalho próprio — e até contratação de profissionais para análise técnica — foi possível montar a planilha divulgada.

Apesar da ameaça pública feita pela SEMCOM, que acusou o portal de contribuir com desinformação, o Real Time 1 mostrou que todas as informações divulgadas foram retiradas do próprio sistema da Prefeitura, inclusive com vídeos que provam o caminho completo de busca e confirmação dos dados.

Justiça à vista

Diante da gravidade da acusação, o portal anunciou que vai acionar judicialmente a SEMCOM e os blogs que repercutiram a nota oficial da prefeitura acusando o veículo de fake news.

“Não responderíamos a qualquer nota, mas como essa partiu de uma autoridade pública, vamos reagir no campo legal. Quem deve combater fake news deve, antes de tudo, falar a verdade”, finalizou a jornalista.

Dinheiro público precisa ser tratado com responsabilidade e transparência, ainda mais quando investido em comunicação institucional. A população tem o direito de saber quem está sendo pago com recursos públicos, por quê, e com quais resultados práticos.

Transparência não pode ser só discurso em nota oficial. Tem que ser prática diária — e, acima de tudo, acessível a todos.