Homem é condenado por matar esposa e trocar por aluna em crime solucionado por podcast

O caso permaneceu sem solução por mais de 40 anos.

Até que, no fim de agosto deste ano, um juiz da Suprema Corte de Nova Gales do Sul, na Austrália, considerou Chris Dawson, de 74 anos, culpado pelo assassinato da esposa, Lynette.

Nesta sexta-feira (02/12), foi anunciada a pena: 24 anos de prisão — com direito a liberdade condicional após 18 anos. O juiz reconheceu que é provável que ele morra atrás das grades.

O advogado de Chris indicou, no entanto, que seu cliente provavelmente vai recorrer da decisão.

Chris, um ex-jogador profissional de rúgbi, morava com ela e os dois filhos do casal na cidade de Sydney.

Eles eram uma família aparentemente normal até que ela desapareceu sem deixar vestígios em janeiro de 1982. À época, Lynette tinha 33 anos.

Chris deixara o rugby no final dos anos 1970 e tinha virado professor de Educação Física em uma escola pública nas praias do norte de Sydney.

E foi justamente durante as aulas que ele se apaixonou por Joanne Curtis, uma das alunas adolescentes, que foi mencionada como JC no julgamento recém-finalizado.

Infidelidade

JC tinha apenas 16 anos quando Chris se apaixonou por ela, de acordo com detalhes revelados tanto no julgamento quanto no podcast investigativo de 2018 que desenterrou o caso, The Teacher’s Pet.

Joanne fazia parte de uma família desestruturada, onde a violência e o álcool faziam parte da rotina diária.

Apesar de ter o dobro da idade dela e ser casado, o professor estabeleceu uma relação próxima com a jovem. Chris contratou a adolescente como babá em sua casa e começou um relacionamento secreto com ela.

De acordo com o testemunho de JC durante o julgamento, ambos fizeram sexo às escondidas, quando Lynette estava dormindo ou tomando banho.

Chris Dawson estava obcecado pela adolescente, que ele enxergava como uma “substituta” para a esposa, de acordo com a avaliação do juiz Ian Harrison.

Apenas três dias após o desaparecimento de Lynette, a jovem estudante foi morar definitivamente com os Dawsons.

O desaparecimento

Nos meses que antecederam o desaparecimento da esposa, Chris ficou cada vez mais desesperado à medida que os planos de divórcio fracassaram e JC ameaçava terminar o caso, afirmou o juiz.

“Quando o afeto se transformou em uma relação sexual, Dawson se deparou com a dura realidade de que não poderia continuar casado e ainda manter um relacionamento cada vez mais intenso” com a adolescente, segundo o magistrado.

“A perspectiva de perdê-la causou aflição, frustração e acabou o oprimindo tanto que Dawson decidiu matar a esposa”, disse o juiz.

Chris Dawson nega ter matado Lynette e sempre afirmou que ela abandonara a ele e aos dois filhos, possivelmente para se juntar a um grupo religioso.

A polícia não encontrou um único vestígio de Lynette desde seu sumiço nos anos 1980.

Chris afirmou que a esposa ligou para ele dias depois do desaparecimento para dizer que precisava de uma pausa no relacionamento.

Essa primeira ligação, assegurou ele, foi seguida por outras, mas não existe nenhuma prova disso. Por isso, o juiz acredita que essa versão seja mentirosa.

A defesa do marido também alegou que pelo menos cinco pessoas declararam ter visto a mulher desaparecida viva depois de janeiro de 1982.

Isso também não convenceu o juiz, que considerou os episódios como erros de percepção das supostas testemunhas.

Dois anos após o desaparecimento de Lynette, em 1984, Chris Dawson e Joanne Curtis se casaram e tiveram uma filha. O casal se divorciou em 1993.

O podcast

Duas investigações sobre o desaparecimento de Lynette em 2001 e 2003 concluíram que ela foi morta por uma “pessoa conhecida”.

Mas os promotores não viram evidências suficientes para apresentar uma queixa, até que o jornalista Hedley Thomas investigou o caso num podcast.

Vencedor do Walkley, o maior prêmio de jornalismo da Austrália, The Teacher’s Pet acumulou mais de 60 milhões de downloads e alcançou o primeiro lugar nas paradas australianas. O programa também teve uma ótima audiência em Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia.

O podcast — e o impacto que o conteúdo causou na opinião pública — tiveram um papel fundamental na prisão de Chris em 2018 e na acusação de homicídio.

O juiz Harrison criticou a”visão desequilibrada” do caso e decidiu que isso havia afetado as provas fornecidas por algumas testemunhas ouvidas no passado.

A comoção gerada pelo podcast atrasou, inclusive, o início do julgamento.

A defesa até tentou paralisar o caso, argumentando que o impacto do programa privou o réu da oportunidade de um julgamento justo.

Por fim, optou-se por realizar o julgamento com um juiz em vez recorrer a um júri popular, considerando que as pessoas fora do magistrado seriam mais influenciadas pela opinião pública.

As informações são do Terra.