2025 no Brasil e no mundo: como a geopolítica, a economia e a cultura redesenharam o ano


2025 foi um ano de rupturas que redescreveram a geopolítica global, reconfiguraram cadeias econômicas e imergiram o Brasil em um cenário de grandes transformações políticas e culturais. Entre tensões militares, acordos comerciais, decisões judiciais que reverberam no dia a dia e lideranças que tomaram decisões históricas, o ano trouxe impactos diretos para a vida cotidiana e para o debate público. Este panorama busca mapear os principais desdobramentos que marcaram o período, conectando eventos internacionais a decisões nacionais e a transformações na sociedade brasileira.


EUA, tarifas e a nova era da competição global

A volta de Donald Trump à Casa Branca acelerou uma ofensiva tarifária voltada a diversos blocos, com foco em aço, alumínio e setores estratégicos. A política de tarifas provocou reajustes nas cadeias de produção, pressionando custos de importação e incentivando negociações com grandes parceiros, incluindo a União Europeia e a China. Em meio a pressões inflacionárias e demanda por contenção de preços para a população, o governo americano sinalizou, em novembro, a redução de tarifas sobre cerca de 200 itens, entre eles alimentos como café e carne bovina, buscando alinhar a política externa a uma estratégia de contenção do custo de vida.


Europa sob tensão: CDU/CSU, Merz e a ascensão da AfD

Na Alemanha, eleições antecipadas refletiram um panorama conturbado pela crise econômica e por tensões migratórias, com a coalizão CDU/CSU conquistando o cargo de chanceler, Friedrich Merz, e a Alternativa para a Alemanha (AfD) alcançando uma expressiva bancada. A composição da coalizão, marcada por debates sobre imigração, economia e a relação com parceiros europeus, mostrou sinais de instabilidade logo no início, especialmente após Merz apoiar o fim do cordão sanitário e acolher votos da ultradireita em uma moção anti-imigração. O desfecho abriu um novo capítulo para a política alemã, com efeitos indiretos sobre a condução da União Europeia.

Brasil no centro: Oscar histórico, cultura e debate sobre a justiça de um passado

Em março, o Brasil celebrou a sua primeira vitória no Oscar, com o filme Ainda Estou Aqui levando a estatueta de Melhor Filme Internacional. A produção, centrada na história de uma família ligada às vítimas da ditadura, estimulou debates no país sobre justiça de crimes cometidos naquele período e ampliou o escrutínio sobre instrumentos jurídicos como a Lei de Anistia. A repercussão foi além da indústria cinematográfica, reacendendo discussões sobre o equilíbrio entre memória, verdade e responsabilização de agentes deveados a violações de direitos humanos.

Conflitos no Oriente Médio e a volatilidade da segurança regional

O ano ficou marcado por uma escalada de violência entre Israel e Irã, com ações que resultaram em danos significativos e centenas de mortes. A partir de junho, confrontos envolvendo alvos estratégicos provocaram uma intervenção direta de Estados Unidos, que bombardearam instalações nucleares no Irã, levando a um cessar-fogo negociado posteriormente. O encurtamento do conflito abriu espaço para debates sobre garantias de segurança, desarmamento regional e a complexa construção de uma paz duradoura, com impactos humanitários que permaneceram no radar internacional.

Caribe, Venezuela e a nova linha de atuação dos EUA

Em agosto, os EUA ampliaram a presença naval na região do Caribe para enfrentar o tráfico de drogas e reforçar a fiscalização de rotas usadas para abastecer mercados norte-americanos. A operação gerou uma tensão regional, sobretudo com a Venezuela, acusada de liderar redes ilícitas, enquanto Washington impunha sanções a familiares do governo venezuelano e a empresas envolvidas. A mobilização naval, apresentada pelo governo americano como parte de uma estratégia de segurança regional, elevou os níveis de alerta e alimentou um debate sobre soberania, direito internacional e intervenção externa.

Bolsonaro condenado, prisão domiciliar e a crise institucional brasileira

Setembro trouxe uma decisão histórica no Brasil: o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 27 anos de prisão por golpe de Estado, organização criminosa armada e violação de direitos democráticos. A pena gerou pressão internacional e provocou reações variadas dentro do espectro político, com sanções impostas a ministros do STF e desdobramentos parlamentares. Em meio a esse cenário, discussões sobre dosimetria penal e mecanismos de responsabilização passaram a fazer parte do debate público, refletindo um momento de redefinição institucional para o país.

Clima, COP30 e o debate sobre o futuro dos combustíveis fósseis

O tema climático dominou a agenda global com a realização da COP30, em Belém, onde a conferência discutiu avanços, pendências e a ambição de limitar o aquecimento. Embora haja avanços técnicos e compromissos de financiamento, o texto final gerou controvérsias, incluindo a ausência de uma proposta concreta para abandonar gradualmente os combustíveis fósseis. O debate refletiu, ainda, a tensão entre desenvolvimento econômico e necessidade de ações climáticas mais ambiciosas, moldando o discurso público e as políticas nacionais para os próximos anos.

Operações de alto impacto no campo cultural e urbano: Louvre e Rio

A cena cultural mundial foi marcada por um roubo audacioso no Louvre, com ladrões usando uma escada de móveis para acessar galerias, levando joias avaliadas em dezenas de milhões de euros e deixando uma coroa valiosa para trás. O caso mobilizou investigações internacionais sobre segurança de museus de alto valor. Em paralelo, no Rio de Janeiro, uma megaoperação policial nos Complexos do Alemão e da Penha resultou em um saldo alarmante de vítimas e gerou críticas de organismos internacionais, reacendendo o debate sobre policiamento, direitos humanos e estratégias de segurança pública no Brasil.

Geração Z e o pulso da mudança global

Em várias regiões, movimentos da Geração Z conquistaram destaque, ampliando protestos e movimentos por reformas políticas, sociais e econômicas. Jovens lideraram pautas de combate à censura, à desigualdade e à corrupção, provocando mudanças em governos e elevando a pressão sobre lideranças tradicionais. A pauta da geração mais jovem passou a figurar com força transversal em debates de democracia, liberdade de expressão e justiça social, transformando o cenário político e cultural ao redor do mundo e no Brasil.