
A decisão anunciada pelo presidente Volodymyr Zelensky representa uma mudança estratégica: Kiev sinalizou que desistirá oficialmente da meta de integrar a OTAN para obter, em contrapartida, garantias de segurança juridicamente vinculantes oferecidas pelos Estados Unidos e por parceiros europeus. O movimento tem como objetivo imediato reduzir o risco de nova ofensiva russa e criar condições para um acordo que resulte em cessar‑fogo.
O que Kiev pede e o que propõe em troca
Zelensky condicionou a renúncia à adesão à OTAN à assinatura de compromissos formais — comparáveis, na prática, a uma cláusula de defesa coletiva — por parte dos EUA e de países europeus. Segundo o presidente, essas garantias deveriam ser vinculantes, com efeitos legais que protejam a Ucrânia de futuras agressões. A proposta inclui também o envolvimento de outros atores, como Canadá e Japão, na estrutura dessas proteções.
Pressão e negociações multilaterais
As conversas preparatórias ganharam ritmo com a viagem de enviados americanos à Alemanha para encontros com representantes ucranianos e europeus. Fontes indicaram que o grupo americano inclui negociadores com histórico em propostas de paz, numa tentativa de converter o impulso diplomático em um esboço concreto — um documento com cerca de 20 pontos que, se aceito, prevê um cessar‑fogo ao fim do processo.
As exigências de Moscou e os pontos sensíveis
Do outro lado, a Rússia mantém demandas que incluem a renúncia formal de Kiev à entrada na OTAN, a retirada de tropas ucranianas de áreas do leste e a neutralidade do território ucraniano em relação a forças externas. Moscou também quer garantias por escrito de que a aliança ocidental não se expandirá para o leste, um pedido que implicaria mudanças geopolíticas além do conflito direto com a Ucrânia.
Território, segurança e infraestrutura
Os esboços divulgados por aliados ocidentais — ainda em debate — chegam a contemplar concessões territoriais e limites às forças armadas ucranianas, medidas que dividem parceiros quanto ao custo político e humano de um acordo. A urgência de Kiev fica pressionada pelos contínuos ataques às redes de energia e abastecimento de água, que deixam centenas de milhares de cidadãos sem serviços básicos e aumentam o apelo por uma solução imediata.
O papel da Europa e dos recursos congelados
Países europeus vêm trabalhando para ajustar as propostas americanas e, paralelamente, discutem mecanismos financeiros que ajudem a manter o Estado ucraniano durante a negociação. Entre as opções está o uso de ativos russos congelados para sustentar orçamentos civis e militares de Kiev, uma alternativa controversa que tem ganhado apoio em alguns capitais.
Riscos e cenários possíveis
Especialistas alertam para dois riscos claros: um acordo que sacrifique demasiadamente a integridade territorial da Ucrânia pode gerar rejeição interna e alimentar instabilidade futura; por outro lado, a manutenção do atual impasse militar prolonga o sofrimento civil e a destruição de infraestrutura essencial. Um cessar‑fogo ao longo das linhas de frente atuais é apontado por autoridades ucranianas como uma opção pragmática, mas sua sustentabilidade depende das garantias externas e de mecanismos de fiscalização independentes.
Próximos passos
Nos próximos dias, líderes europeus e representantes ucranianos se reúnem em Berlim para avaliar as propostas e tentar alinhar posições antes de qualquer assinatura. Zelensky deixa claro que Kiev não negocia diretamente com Moscou, optando por mediadores e garantias multilaterais — um arranjo que pode acelerar um acordo, mas que também exige confiança entre parceiros e compromissos legais e políticos duradouros.
O desfecho dessas negociações poderá redefinir não só o mapa da Ucrânia, mas também as linhas de segurança europeia nas próximas décadas, ao mesmo tempo em que testa a capacidade dos aliados de oferecer proteção efetiva sem a formalidade da adesão à OTAN.





