A guerra na Ucrânia entra em um momento de negociações e incertezas, com a posição do Kremlin ainda central para qualquer solução. Para que Vladimir Putin aceite um desfecho negociado é preciso entender não só o que ele exige — reconhecimento territorial, redução da capacidade militar ucraniana e garantias de segurança —, mas também quais pressões externas ou internas poderiam obrigar Moscou a recuar.
Ao longo do conflito, o governo russo sustentou demandas que visam consolidar ganhos no terreno e reduzir o risco de uma Ucrânia alinhada à Otan. Entre essas exigências estão a confirmação de controle sobre áreas ocupadas, limites severos à capacidade bélica ucraniana e a permanência da Ucrânia fora de alianças militares ocidentais. Na prática, trata‑se de transformar conquistas militares em vitórias diplomáticas e de erodir a capacidade de Kiev de retomar territórios no futuro.
Os EUA têm influência decisiva sobre o resultado. Um envolvimento ativo pode forçar concessões russas — seja via apoio militar contínuo e coordenação diplomática, seja por meio de punições econômicas calibradas. Por outro lado, uma redução do apoio americano ou pressões para um cessar‑fogo em termos aceitáveis a Moscou poderia empurrar a Ucrânia a aceitar soluções que impliquem perdas territoriais.
Bruxelas e os Estados europeus discutem medidas que vão do aumento do apoio militar à preparação para um conflito prolongado. Opções consideradas incluem ampliar a defesa aérea no oeste ucraniano, fornecer mais sistemas de longo alcance, e até a presença de tropas em áreas fronteiriças para liberar unidades ucranianas ao front. Essas medidas, porém, enfrentam limitações políticas: medos de escalada, divisões internas e a resistência de eleitorados cansados de guerra.
As sanções afetaram a economia russa, reduzindo capacidades e pressionando receitas. Ainda assim, a eficácia depende da aplicação rigorosa — incluindo a possibilidade de um embargo energético e de sanções secundárias — e da disposição de países terceiros em cortar laços comerciais. No campo financeiro, há propostas para mobilizar ativos russos congelados para financiar a reconstrução ucraniana, mas questões legais e políticas na Europa atrasam decisões.
A China é um ator com capacidade real de alterar o cálculo russo. Beijing fornece bens de tecnologia e um mercado relevante para recursos russos; se decidir reduzir esse apoio, o espaço de manobra de Moscou diminuiria. Por ora, a postura chinesa tende à neutralidade instrumental — apoiar medidas que preservem seus interesses comerciais e geopolíticos —, mas uma mudança de prioridade poderia aumentar a pressão sobre o Kremlin.
Kiev enfrenta escolhas difíceis. Ampliar a mobilização aumentaria força no front, mas tem custos demográficos e sociais significativos para um país já marcado por deslocamentos e baixa natalidade. Investir em mísseis de longo alcance e ataques em território russo pode desgastar a logística adversária, porém também pode endurecer a narrativa de ameaça usada por Moscou para justificar a guerra.
Não existe fórmula simples. Entre os fatores que podem modificar a posição russa estão: um aperto econômico amplo e efetivo, isolamento diplomático crescente, perda de apoio interno à estratégia bélica, ou sinais claros de que manter a guerra será mais custoso que aceitar um acordo com saídas honoráveis. Uma saída turbadora para Moscou seria uma combinação desses elementos, possivelmente incentivada por mediação forte dos EUA e pressão coordenada de aliados.
Em última análise, a probabilidade de um acordo dependerá menos de um único gesto e mais da convergência entre política doméstica russa, reação internacional coordenada e a resiliência ucraniana. Sem isso, o conflito tende a se arrastar — com custos humanos, econômicos e geopolíticos altos para todas as partes.
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