
O debate sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia ganhou nova dimensão nesta quinta-feira, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que vale a pena esperar um pouco mais pela assinatura. Em um breve encontro com jornalistas, ele destacou que esse tempo extra pode esclarecer aos agricultores europeus que o pacto não traz prejuízos para eles, especialmente na França e na Itália, onde a resistência tem registro de sensibilidades locais e pressões setoriais.
A fala ocorreu antes de a Comissão Europeia confirmar o adiamento da assinatura para janeiro, e em meio a uma política de bastidores que já sinalizava resistência de alguns países à assinatura neste fim de semana, durante a cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu. Haddad ressaltou ainda que o acordo tem uma dimensão política e geopolítica, não apenas econômica, o que ele vê como um sinal de cooperação entre blocos frente a tensões globais.
O ministro informou ter enviado uma mensagem ao presidente francês Emmanuel Macron enfatizando que o acordo envolve compromissos que vão além do comércio, com salvaguardas previstas para evitar danos a produtores europeus. Segundo Haddad, se os europeus precisarem de mais tempo para esclarecer a questão junto à opinião pública, vale a pena esperar pela conclusão de um texto que, na prática, já contempla mecanismos de proteção aos agricultores italianos e franceses.
No frente a frente político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou ter conversado por telefone com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni. Lula disse que Meloni não é contra o acordo, mas enfrenta entraves internos e pediu um prazo de até um mês para convencer os agricultores italianos. Ela, conforme o relato presidencial, pediu paciência de uma semana, dez dias ou, no máximo, um mês para avançar.
França tem sido uma das vozes mais firmes contra o fechamento imediato do tratado, buscando consenso entre países da UE para adiar a assinatura. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou aos dirigentes da União que a formalização do acordo ficou para janeiro, alinhando-se aos desdobramentos políticos da região. O tema, negociado há mais de duas décadas, envolve a criação de uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, reunindo dezenas de países e impactos potenciais para setores agrícolas, industriais e de serviços de ambos os lados do Atlântico.
O que está em jogo no acordo Mercosul–UE e por que o atraso pode fazer diferença
Especialistas apontam que o texto em discussão incorpora salvaguardas para produtores europeus, buscando evitar impactos instáveis no curto prazo. A avaliação de Haddad é de que o atraso não se traduziria em prejuízo econômico imediato, ao menos para os itens sensíveis, desde que haja clareza pública sobre as regras e garantias embutidas no acordo, o que, segundo ele, pode reduzir resistências políticas dentro de alguns países.
Reações na União Europeia e no Brasil: entre diplomacia e pressões internas
No cenário europeu, a França tem liderado uma frente que pressiona por mais estudos e consulta pública antes de qualquer assinatura. Do lado brasileiro, o governo sustenta que o diálogo continua e que as salvaguardas previstas ajudam a manter o tratado dentro de um patamar de cooperação mútua, alinhado a objetivos geopolíticos mais amplos.
Impactos para o agronegócio e para o comércio externo
Se fechado, o Mercosul–UE poderia redesenhar fluxos comerciais regionais, com benefícios potenciais para exportadores de ambos os lados, ao mesmo tempo em que impõe ajustes para setores expostos à concorrência. O debate, que já atravessa décadas de negociações, mantém o foco em equilíbrio entre abertura de mercados, proteção de produtores nacionais e previsibilidade regulatória. Com informações da Agência Brasil.





