
Um soldado ucraniano, identificado como Rasti e com 27 anos, contou em entrevista à Deutsche Welle os horrores enfrentados após ser capturado em Mariupol, em 2022. Detido por dois anos e meio em solo russo, ele descreve um regime de torturas, isolamento e pressões demonizando a própria identidade como parte de uma estratégia para quebrar a resistência dos prisioneiros. Em meio à troca de prisioneiros que o libertou, ele retornou à linha de frente, carregando as marcas daquilo que viveu.
Torturas e violência sistemática durante o cativeiro
Rasti detalha um episódio em particular de brutalidade contínua: um espancamento que se estendeu por 12 horas seguidas, além do uso de uma arma de choque dirigida a animais sobre o próprio corpo. Segundo ele, a agressão não foi isolada, mas integrada a um regime de punições que visava impor medo, obediência e desorientação entre os detidos.
As condições físicas eram extremas. O jovem relatou ser forçado a cantar centenas de músicas por dia, mantendo o ritmo de deslocamento enquanto eram submetidos a temperaturas extremas — até 40 graus Celsius no verão ou 20 negativos no inverno. O grupo de detidos permaneceu em pé, em fila, e era obrigado a cantar e marchar no mesmo lugar por longas horas, em um ciclo que visava esgotar a resistência psicológica e física.
Em meio a esse regime, o prisioneiro disse que, em momentos de tortura, chegou a esquecer o próprio nome da mãe, um sinal de como o ambiente desumana poderia apagar a própria identidade. Tais relatos reforçam as preocupações de organizações de direitos humanos e do ACNUR sobre o tratamento de prisioneiros de guerra ucranianos sob custódia russa, classificado por esses grupos como crimes de guerra em potencial.
Contexto internacional e impactos na percepção de direitos humanos
Especialistas e organizações independentes instaram para que casos como o de Rasti sejam devidamente investigados, destacando a necessidade de responsabilização e de salvaguardas mínimas para prisioneiros de guerra. A libertação do combatente ocorreu por meio de uma troca de prisioneiros, mas a experiência relatada ajuda a compor o retrato de uma prática que tem gerado críticas internacionais e pressões por denúncias formais e acompanhamento de investigações.
Retorno à linha de frente e reflexões sobre o conflito
Após o término do cativeiro, Rasti retorna às frentes de combate, o que paradoxalmente o coloca novamente em risco, agora com o peso de testemunhos que podem alimentar a narrativa pública sobre o conflito e sobre o tratamento de prisioneiros. Seu relato serve para iluminar, com uma voz direta, as dificuldades enfrentadas por quem fica sob custódia e o quanto isso impacta a vida de quem continua lutando pela própria sobrevivência e pela continuidade de um conflito que permanece sem solução definitiva.





