Relato exclusivo: vítima afirma que cerca de 50 brasileiras estiveram na mansão de Jeffrey Epstein, segundo a BBC


Um depoimento à BBC News Brasil, baseado na narrativa de Marina Lacerda, traz detalhes sobre a atuação de Jeffrey Epstein no círculo de violência sexual que envolve jovens imigrantes. A entrevistada afirma que aproximadamente cinquenta brasileiras teriam sido levadas à mansão do bilionário, sugerindo a existência de uma rede que explorava mulheres em situação vulnerável associadas ao caso.


A reportagem também se apoia em documentos do Departamento de Justiça dos EUA tornados públicos recentemente, nos quais é mencionada a existence de um grande grupo brasileiro ligado ao caso, ainda que nomes e detalhes permaneçam ocultos. A menção indica, segundo a BBC, que houve uma conexão relevante entre o Brasil e as atividades de Epstein, sem apresentar um retrato completo da rede.


Quem é Marina Lacerda e como começou o contato com Epstein

Marina, natural de Belo Horizonte, chegou aos Estados Unidos ainda na adolescência, acompanhando a mãe. Morando em Astoria, bairro com forte presença de brasileiros, ela integrou um grupo de jovens ligado a uma igreja local. Uma amiga a convidou a conhecer um homem rico que, segundo a versão apresentada, oferecia ajuda econômica em troca de serviços de massagem de meninas novas.

Aos 14 anos, Marina diz ter ido ao local. O ambiente era pouco iluminado e sem janelas, e Epstein se apresentou a elas durante a visita. Ela relata que, ao fim de uma ligação telefônica, ele tentou tocar nela; ao recusar, percebeu que a situação evoluía e acabou envolvendo a colega que a acompanhava. Segundo o relato, o tom dele mudou conforme a reação da outra menina, e a situação terminou com as duas recebendo dinheiro e saindo dali, com a promessa de retorno.

Com o passar do tempo, Marina afirma que Epstein passou a pedir que ela trouxesse outras meninas para que ele pudesse realizar mais sessões de massagem. Ela descreve que o grupo incluía brasileiras, além de jovens de origem russa e hispânica, todas em situação de vulnerabilidade, como imigrantes sem documentos ou com redes de apoio frágeis. A narrativa também aponta que Epstein se apresentava como alguém com grande influência, usado para justificar abusos com a ideia de poder político e econômico.

A rede de recrutamento e o peso das condições de imigração

Marina afirma que, à medida que as visitas se intensificaram, a dupla passou a buscar outras meninas para Epstein, muitas delas sem documentos ou em situação de independência precária. Ela diz que o grupo foi recrutado entre comunidades brasileiras em Nova York, com inclusão de jovens de outras nacionalidades, todas vítimas de vulnerabilidade social, nas quais a exploração se apoiava na promessa de uma melhora financeira.

Ela descreve ainda episódios de racismo dentro do círculo, bem como a percepção de que as meninas eram tratadas como mercadorias com idade subestimada ou desconsiderada. A testemunha afirma que as exigências se estendiam ao longo do tempo e que, com o avanço das visitas, apareceram novas demandas, inclusive quanto à idade das garotas que eram trazidas.

Interação com o FBI e desdobramentos pessoais

Marina conta que foi procurada pelo FBI pela primeira vez por volta de 2008, quando ainda morava em Astoria, para esclarecer o que sabia sobre Epstein. Na época, diz ter tido medo e preferiu não revelar tudo, seguindo orientação de uma secretária que supostamente pediu que não retornasse a ligação. Em 2019, o FBI voltou a procurá-la para confirmar detalhes, pouco antes da morte de Epstein, ocorrida na prisão naquele ano.

Desde que decidiu tornar pública a história, em setembro, Marina enfrentou críticas nas redes e pressão familiar no Brasil. Ela afirma que recebe relatos de outras vítimas latinas que não desejam falar publicamente por medo de retaliação, e reforça a importância de ampliar o debate sobre abusos físicos, psicológicos e financeiros para evitar que outros profissionais e famílias passem pela mesma trajetória. A entrevista também marca uma tentativa de dar visibilidade ao sofrimento de imigrantes que, segundo ela, acabam silenciadas pela vulnerabilidade econômica.