Profissionais de saúde alertam para o acolhimento de pessoas em sofrimento mental

Uma luta diária para diminuir o preconceito, estimular a empatia e sensibilizar a sociedade sobre o acolhimento das pessoas que estão em sofrimento mental. Um trabalho realizado por psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos e outros profissionais de saúde, que atuam em atividades terapêuticas na Rede de Atenção Psicossocial (Raps), coordenada pela Prefeitura de Manaus. Neste 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial, esses profissionais sinalizam a importância de exercitar um olhar mais sensível para os que apresentam essa condição.

Para o prefeito David Almeida, a data é importante, para mostrar o quanto o preconceito prejudica as pessoas que apresentam algum tipo de sofrimento psíquico. “Precisamos reavaliar nossas atitudes e ter uma postura mais acolhedora, para os que estão nessa situação. Este dia serve para mostrar que isolar quem está em sofrimento mental é desumano”, disse.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial nasceu de um movimento social iniciado na década de 1970, chamado Reforma Psiquiátrica, que reuniu, além de trabalhadores de saúde, universidades e instituições contrárias à ideia de isolar as pessoas em sofrimento mental em manicômios. Como cidadã, a pessoa que apresenta um transtorno mental tem direito à liberdade e a um tratamento humanizado.

A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) compõe a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), do Sistema Único de Saúde (SUS), com atendimentos na atenção básica realizados nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Conforme a secretária Shádia Fraxe, as unidades reúnem equipes multidisciplinares preparadas para oferecer atendimento de qualidade aos usuários. “São profissionais comprometidos com os direitos dos pacientes, que trabalham pela garantia do convívio familiar e social, ofertando acolhimento e tratamento, de acordo com as necessidades de cada usuário”, informou.

Reinserção social

De acordo com a diretora do Caps Benjamim Matias Fernandes, que fica no Parque 10 de Novembro, zona Centro-Sul, a psicóloga Luciana Lopes, o exercício diário da sua equipe é a reinserção social. Devido à pandemia da Covid-19, os atendimentos estão sendo realizados de forma individualizada. É o caso das consultas com psiquiatras e psicólogos. As atividades em grupo como rodas de conversa, atividades físicas e terapias ocupacionais estão suspensas.

Ao avaliar os avanços na luta antimanicomial, para Luciana Lopes há motivo para comemoração, mas esta é uma caminhada longa, por envolver aceitação e chamamento da sociedade. “Todos precisam reconhecer a existência de pessoas que sofrem muito e precisam ser acolhidas, cuidadas e reinseridas”, acrescentou.

Segundo ela, várias doenças já foram alvo de preconceito, como foi o caso da hanseníase e do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), mas o conhecimento promoveu o rompimento da barreira dos preconceitos. No caso do sofrimento mental ainda há muito a caminhar.

“Ainda persiste aquela ideia de que o transtorno mental é uma fraqueza e que a psicologia e a psiquiatria não ajudam. Muitas famílias recorrem ao apoio espiritual, por exemplo. Não que a espiritualidade não ajude, mas concentrar todos os esforços nela, impossibilita a reinserção. Ao mesmo tempo, excluir essas pessoas do convívio social é uma medida incompatível com o avanço da medicina. Estamos aqui justamente para lembrar que essas pessoas precisam estar na sociedade”, explicou.

Sofrimento mental

Enfermeiro do Caps Doutor Afrânio Soares, no conjunto Jardim Espanha, no Aleixo, zona Centro-Sul, George Amaro atua em uma unidade com o serviço direcionado a usuários adictos, que sofrem por uso abusivo de álcool e outras drogas lícitas e ilícitas. A maioria é formada por homens na faixa etária dos 23 a 35 anos, muitos em situação de rua.

Segundo ele, o acolhimento é terapêutico, nos casos em que o usuário está em crise, e quando este decide iniciar o trabalho de recuperação, é adotado um Plano Terapêutico Singular (PTS) de acordo com cada pessoa. O PTS abrange uma série de ações terapêuticas articuladas, com o objetivo de melhorar o estado do paciente.

“Nosso sistema é o de porta aberta: quando a pessoa entra aqui, nós a acolhemos. E o tratamento é voluntário, a pessoa não fica presa, acolhemos e mostramos que nosso tratamento é leve e que nada será feito sem que esse usuário queira. Ensinamos essa pessoa a se olhar, o que já melhora a autoestima dela, o que em si, já uma terapia”, explicou.

Virada

Há cinco anos, quando Maria Luzia Chagas da Silva começou seu tratamento, em um Caps que funcionava no bairro da Cachoeirinha, zona Sul, estava sem forças e não tinha energia para nada. Com um quadro de depressão devido a problemas com um filho, ela estava muito assustada e sem vontade de viver. Devagar e de forma constante começou a fazer atividades físicas e artísticas, com uso de medicamentos e orientações para lidar com seus problemas. Hoje comemora os bons resultados.

“Cheguei muito mal aqui, pensei várias vezes em parar de viver, mas todo mundo me deu apoio e me senti como se estivesse em uma família. Eu me sinto muito bem aqui, porque todos me tratam muito bem. Todos são nota 10 comigo. Eu quero que essa pandemia acabe logo, para eu poder abraçar todo mundo”, disse.

Acolhimento

Tratamento com dignidade, paciência, dedicação e o envolvimento da família. Essa é a base apontada pelo enfermeiro Jorge Luiz Santos da Silva, que atende no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) Leste, como fundamental para o acolhimento de crianças e adolescentes que apresentam transtornos mentais.

A unidade funciona no conjunto Acariquara, no bairro Coroado, zona Leste, com atendimentos direcionados a crianças e adolescentes de até 18 anos com transtornos mentais graves, severos e persistentes como depressão, ansiedade e tentativa de suicídio, por exemplo. “Esses adolescentes e crianças precisam desse atendimento específico, mas o envolvimento da família é essencial na condução desse processo, para que elas possam viver da melhor forma possível”, ressaltou.

Empatia

A assistente social Arlene Neri de Oliveira, que trabalha com crianças e adolescentes do Capsi Leste e suas famílias, orientando-os sobre os serviços da Rede de Proteção Psicossocial, afirmou que muitos usuários desconhecem que têm direito aos tratamentos.

Para ela, ainda há muito trabalho pela frente a ser realizado pelos atores da rede de proteção, que compartilham o mesmo objetivo: sensibilizar mais a sociedade para reduzir o preconceito em torno do sofrimento mental.

“O processo melhora lentamente porque ainda existe muito preconceito e falta de sensibilidade com relação ao paciente em sofrimento psíquico. Precisamos ser mais sensíveis, colaborativos e solidários com a dor dos outros porque qualquer um de nós pode passar por isso”, ressaltou.

Endereços

Os Caps coordenados pela Semsa, devido à crise sanitária causada pela Covid-19, estão com os atendimentos em grupo suspensos, mas continuam funcionando para os atendimentos individuais nos seguintes endereços.

Centro de Atenção Psicossocial III Benjamim Matias Fernandes

Avenida Maneca Marques, 1.916, Parque 10 de Novembro

Centro de Atenção Psicossocial III Álcool e Drogas Dr. Afrânio Soares (Caps ad III)

Avenida Ephigênio Sales, 5, conjunto Jardim Espanha, Aleixo

Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Leste (Capsi Leste)

Avenida Adolpho Ducke, 1.221, conjunto Acariquara, Coroado

Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Sul (Capsi Sul)

Rua Santa Catarina, nº 3, Parque das Laranjeiras, próximo à praça de alimentação do Parque das Laranjeiras, Flores.

Com informações da assessoria