A polícia de Minas Gerais está investigando um trote, que teria deixado um aluno em coma, em Ouro Preto.
Ayrton sempre quis estudar na tradicional engenharia de Ouro Preto. Para orgulho da mãe, empregada doméstica no Maranhão, ele conquistou a vaga tão sonhada.
No começo do ano, foi morar na República Sinagoga, uma das 59 moradias da UFOP, a Universidade Federal de Ouro Preto- são casarões espalhados pelo Centro Histórico da cidade mineira, gerenciados pelos próprios estudantes.
Ayrton contou que enfrentou, por meses, o que repúblicas de Ouro Preto chamam de “batalha”, período em que o estudantes recém-chegados têm que passar por testes, como fazer tarefas da casa, enfrentar desafios para provar que merecem de vez um lugar nos casarões.
Ayrton foi aprovado pelos veteranos da Sinagoga, que fizeram uma festa. O rapaz saiu da comemoração em coma. A mãe de Ayrton, Regina Araújo Veras, afirma que o filho foi vítima de um trote durante a festa.
“Eles dão uma pressão psicológica nos alunos, nos rapazes. Ele bebeu copos americanos, três copos americanos, cheios de cachaça, de pinga. Três copos americanos cheios de molho com óleo, molho de pimenta com molho shoyu. Eles deram um banho nele com balde de água gelada com pó de café. Apagou após o banho gelado e entrou em coma”, relata.
Ayrton chegou à UPA de Ouro Preto com sintomas de excesso de bebida. O médico que o atendeu chamou a polícia, porque o estado de saúde do estudante era grave.
No boletim de ocorrência da PM consta que Ayrton Almeida foi levado ao local por colegas e que um deles, ouvido como testemunha, relatou que o paciente morava na República Sinagoga e que tinha feito uso de bebida alcoólica. A Polícia Civil abriu um inquérito.
A mãe de Ayrton disse que os médicos também citaram sinais de abuso sexual, mas a família afirmou que ainda não recebeu o resultado do exame. Da UPA, o estudante precisou ser transferido para a Santa Casa de Ouro Preto. Ele foi intubado e passou 16 dias internado; oito deles na UTI.
Quando teve alta, Ayrton trancou a matrícula e voltou para o Maranhão, onde faz tratamento contra as sequelas. Segundo a família, crise de ansiedade, queda de cabelo, problema cardíaco e perda de movimento de um pé.
“Eu não consigo mais voltar a falar. Até porque não vai ser confortável para mim, tanto emocionalmente como fisicamente. A gente é obrigado a passar por cada humilhação, e eles acham normal, eles normalizam. Fiquei decepcionado, e também decepcionado pela gestão. Eu quero que a UFOP tome atitudes, providências. Eu quero justiça. Não é o primeiro caso, são vários casos”, conta Ayrton Carlos Almeida Veras.
A Universidade Federal de Ouro Preto instaurou uma comissão disciplinar e encaminhou o jovem para acompanhamento, e reiterou que o trote pode levar a advertência, suspensão ou desligamento dos estudantes envolvidos.
A República Sinagoga negou que os fatos tenham ocorrido da forma como a família de Ayrton relata. A república alega que levou o estudante para atendimento e que deu todo o apoio à família. Com informações do G1





