Nesta sexta-feira, a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Preparação Global para Riscos Infecciosos, Sylvie Briand, disse que conter o surto da varíola dos macacos em países não endêmicos é uma prioridade, e que isso pode ser feito caso os países tomem medidas de forma rápida.
Segundo a plataforma de dados Our World in Data, da Universidade John Hopkins, já são cerca de 330 casos relatados da doença em locais fora do continente africano desde o início do mês, em pelo menos 20 países.
“Achamos que, se tomarmos as medidas certas agora, podemos contê-lo (o surto) facilmente”, afirmou a representante da OMS na assembleia anual da organização.
Sylvie destacou que o momento atual é uma janela de oportunidade para prevenir uma maior disseminação do monkeypox, vírus causador da doença, mas ressaltou que a população geral não deve se alarmar, uma vez que a transmissão entre pessoas é baixa e mais lenta que de outros patógenos, como o da Covid-19.
“Investigação de casos, rastreamento de contatos, isolamento em casa (para infectados) serão suas melhores apostas”, defendeu a chefe do secretariado de varíola da OMS, que faz parte do Programa de Emergências da organização, Rosamund Lewis.
Em relação às vacinas, a OMS afirma que não há necessidade para uma campanha em massa a toda a população agora, mas sim imunizar pessoas que tiveram contato com outras contaminadas em países onde há disponibilidade de doses. No Reino Unido, por exemplo, profissionais da saúde e contatos de infectados estão sendo vacinados.
Durante a semana, diversos países europeus, além dos Estados Unidos, também correram para garantir os imunizantes. Já nesta sexta-feira, o coordenador de vacinas da Suécia, Richard Bergstrom, anunciou que a União Europeia decidiu realizar uma compra conjunta tanto de vacinas como de antivirais para combater o surto na região, o maior já visto da doença no continente, segundo o serviço médico das Forças Armadas da Alemanha.
Casos se multiplicam, mas situação é controlável
Ontem, a epidemiologista-chefe da OMS, Maria Van Kerkhove, pediu que os países aumentassem a vigilância para detectar pessoas infectadas com a doença e disse que mais casos são esperados em breve. Ainda assim, ela acredita que o cenário pode ser controlado.
“Será difícil, mas é uma situação controlável nos países não endêmicos”, disse Maria Van Kerkhove em coletiva online.
Desde o início do mês, ao menos 20 países identificaram mais de 300 diagnósticos da varíola dos macacos. Além das nações europeias, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Israel e Emirados Árabes Unidos também relataram infecções. As nações mais afetadas até o momento são Reino Unido, Espanha e Portugal, que juntas concentram mais de 70% dos casos.
Os registros intrigam especialistas uma vez que a doença não era comum fora da África Central e Ocidental – onde a varíola dos macacos é endêmica. Isso porque, quando detectados nesses locais, os casos eram pontuais em pessoas que haviam retornado do continente africano. Porém, pela primeira vez, esses países vivem casos de transmissão local do patógeno.
A doença é uma versão semelhante à varíola erradicada em 1980, embora mais rara, mais leve e com a transmissão entre pessoas mais difícil de acontecer. Ela costuma ser passada de animais, principalmente roedores, para humanos. No entanto, os casos relatados até então têm se espalhado entre pessoas, o que preocupa autoridades de saúde.
O período de incubação do vírus monkeypox – tempo entre infecção e aparecimento de sintomas – é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias, segundo a OMS. Quando surgem, os sinais são febre, dor de cabeça, dores musculares e erupções na pele (lesões) que começam no rosto e se espalham para o resto do corpo, principalmente as mãos e os pés. Geralmente, a doença é leve, e os sintomas desaparecem sozinhos dentro de duas a três semanas.
A transmissão entre humanos se dá pelo contato com lesões, fluidos corporais, compartilhamento de materiais contaminados e vias respiratórias. Isso inclui o contato íntimo, com uma série de registros sendo associados a relações sexuais.
Dados mostram que os imunizantes utilizados para erradicar a varíola tradicional, em 1980, são até 85% eficazes contra essa versão. Apesar de a cepa detectada nos países fora da África ter uma letalidade de 1%, não foram registrados óbitos até então.
As informações são do IG