As lágrimas da aposentada Suzete Maria da Silva ao falar sobre a alta dos preços dos alimentos durante entrevista em um supermercado de Maceió viralizaram nas redes sociais e emocionaram o Brasil. Além das mensagens de apoio, a identificação com a dor que não é só dela, mas de muitos brasileiros que se deparam com a dificuldade em levar comida para casa. As informações são do G1.
O vídeo da primeira entrevista postado no Twitter foi visto mais de um milhão de vezes e teve 67 mil curtidas. Outros milhares de posts com o mesmo vídeo se multiplicaram na internet.
O imóvel localizado em uma vila no bairro do Poço, é humilde, mas é próprio e foi construído com muito trabalho. Lá, Suzete vive com a filha de 27 anos e os dois netos, os xodós a quem ela dedica tempo e amor. Mesmo com tanta dificuldade, a esperança de ver as coisas melhorarem se mantém firme.
“O brasileiro não pode morrer de fome. Espero que tudo melhore. Esse é o meu pensamento. As pessoas precisam se unir para que o governo mude e que o Brasil não se afunde do jeito que está se afundando. É o que desejo”, diz a aposentada.
Aos 66 anos, ela decidiu continuar trabalhando como cozinheira na casa de uma família. O dinheiro extra ajuda a pagar as contas. A sua rotina é corrida, o horário de descanso é curto, mas o sacrifício tem sido necessário para levar a vida com dignidade.
“Trabalho de segunda a sábado feito uma maluca para ter alguma coisa, e quando chego em casa tenho os serviços [domésticos], só vou descansar depois das 23h. A folga também é dia de trabalhar em casa, arrumando tudo e ajudando a cuidar dos netos. E assim a vida continua”, afirma.
Com uma renda apertada e os preços disparando nos supermercados, o jeito tem sido abrir mão de alguns alimentos. A geladeira que antes vivia cheia, agora tem pouca comida.
“Está tudo caro. Você compra um dia, no outro, o preço já muda, já está mais caro. Antigamente eu fazia uma feira e minha geladeira ficava cheia, agora eu faço feira e a geladeira continua vazia. Não tem nada. Antes a gente conseguia comprar carne para fazer um almoço decente em um dia de domingo, mas agora é impossível. Antes tinha carne na nossa mesa e hoje? Tem fome! O povo passa fome”, conta Suzete.
E não é só a conta do mercado que tem pesado no bolso. O reajuste tarifário de energia tem feito o orçamento de Suzete ficar ainda menor.
“A gente ganha um salário e não sabe como dividir para pagar as contas, é água, é luz, é o gás. A pergunta é: O que a gente come com esse salário vergonhoso? A gente tem que fazer milagre! Antigamente eu comprava R$ 2 de pão e dava para tomar café, agora tenho que gastar R$ 4, é um absurdo. O assalariado que paga um aluguel, água e luz come o quê? Não sei”, lamenta.
Mesmo ganhando pouco, Suzete lembra que ainda consegue fazer uma feira modesta, mas se pergunta como um desempregado consegue alimentar a família.
“Espero que as pessoas tenham coragem de falar que estão passando fome, que digam que esse salário miserável que a gente ganha não dá para comer. E quem perdeu o emprego na pandemia, como está passando?”, questiona.
A fome, que voltou a subir no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia. Um levantamento da ONG Oxfam mostra que 20 milhões de pessoas passaram a viver em níveis extremos de insegurança alimentar em 2021.
“Na hora que comecei a falar que trabalho, que sou aposentada e meu dinheiro não dá para levar um quilo de carne para casa, isso me emocionou e eu chorei muito. Acho que o Brasil todo chorou comigo. Não estou passando fome, mas eu tenho dificuldade de levar uma feira decente para casa. Até quem tem mais dinheiro está tendo dificuldade para fazer a sua feira”, diz a idosa.
Em meio às dificuldades, ela se orgulha de ter feito o país discutir um assunto tão importante e até brinca que agora ficou famosa. “Eu não imaginei nunca que daria uma repercussão tão grande. Foi gratificante, muita gente entrou em contato para ajudar, para dizer que se sensibilizou com a minha história. Todo mundo só fala nisso”.