
A recuperação das exportações de petróleo da Venezuela, mesmo sob pressão de sanções, tem sido, para analistas e autoridades, acompanhada de uma prática cada vez mais discutida: a frota fantasma. Trata-se de uma rede de petroleiros que, por meio de manobras de navegação, busca ocultar a origem da carga e contornar restrições internacionais. Estimativas de especialistas apontam para cerca de 1,3 mil embarcações envolvidas em operações desse tipo em nível global, com uma parcela relevante dedicada ao petróleo venezuelano.
O que é a frota fantasma e por que ganhou atenção
O conceito envolve navios que mudam de nome e de bandeira com frequência, desativam sistemas de rastreamento e realizam transferências de carga em alto-mar. Esses artifícios ajudam a apresentar o petróleo venezuelano como se fosse oriundo de países não sancionados, atraindo compradores dispostos a assumir riscos diante das restrições impostas pelos EUA e por outros atores internacionais.
Como operam os navios fantasmas
Entre as táticas comuns estão a substituição de registro por diversas vezes, o uso de bandeiras de flag de paraísos fiscais e a reutilização de identidades de embarcações já desativadas. Em alto-mar, a carga pode ser transferida para outros navios, que então seguem para o destino final com a nota de origem alterada. Em alguns casos, o AIS — systems de identificação automática — fica desativado, dificultando o monitoramento de posição, rota e identidade da embarcação.
Evidências recentes e casos emblemáticos
Investigações internacionais sugerem a existência de navios- zumbis que transportaram petróleo venezuelano, inclusive itens associados a redes de contrabando vinculadas a outros países sob sanções. Em operações recentes, autoridades americanas interceptaram e apreenderam petroleiros próximos à costa venezuelana, reforçando o debate sobre como a frota fantasma opera. Relatórios de organizações não governamentais indicam que dezenas de navios operaram de modo furtivo nos portos da PDVSA, com muitos sob bandeiras de países com supervisão regulatória mais branda.
Impacto econômico e estratégico
Para Washington, a finalidade dessas ações é aumentar a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro e dificultar o fluxo de receitas petrolíferas. Embora haja uma recuperação na venda externa de petróleo — estimada em torno de um milhão de barris por dia — as práticas da frota fantasma complicam a aplicação de sanções e podem influenciar o preço internacional do petróleo, especialmente se interrupções no Caribe se prolongarem.
Contexto histórico e perspectivas futuras
Desde 2019, as sanções atingiram fortemente a indústria petrolífera venezuelana, levando a quedas na produção. Hoje, com a economia global relativamente bem suprida, a Venezuela tenta manter volumes de exportação por meio de rotas alternativas e de uma rede de navios que ocultam a origem do produto. Observa-se, assim, um novo padrão de exportação que demanda maior vigilância internacional, cooperação entre autoridades marítimas e avaliação constante de riscos para o mercado global de energia.





