Mudança radical na política externa de Trump: por que a Europa teme o redesenho da diplomacia dos EUA e o que isso significa para o equilíbrio global


A divulgação de uma nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, com 33 páginas, sinaliza uma reconfiguração profunda da diplomacia do país. Ao privilegiar acordos bilaterais, a proteção de interesses econômicos nacionais e uma leitura mais contida do multilateralismo, o documento aponta um novo eixo de atuação que impacta a Europa, a América Latina e a ordem global.


Como a estratégia redesenha as prioridades da política externa dos EUA

O texto desloca o foco para a economia, valorizando a resiliência de cadeias produtivas, a proteção de setores estratégicos e a diplomacia direta com aliados. Em vez de priorizar acordos multilaterais, a linguagem aponta para a defesa de interesses nacionais, o que pode reduzir a cooperação institucional de longa data.


Observadores descrevem tom mais duro sobre as instituições europeias e sobre políticas migratórias, sugerindo que a estratégia vê as decisões do continente como parte de uma identidade ocidental sob pressão. O trecho também menciona a ideia de manter o hemisfério ocidental estável como forma de enfrentar a influência estrangeira, tema que remete a uma versão atualizada da Doutrina Monroe.

Repercussões na Europa e na imprensa

Na Europa, a reação foi de apreensão entre políticos e analistas. Grandes jornais discutiram a possibilidade de um distanciamento entre EUA e Europa, interpretando o documento como sinal de ruptura histórica com o entendimento que guiou a ordem transatlântica no pós Guerra, após 1945. Em especial, a imprensa francesa enfatizou contradições percebidas entre o discurso de não intervencionismo e afirmações de intervenção em políticas europeias.

O texto também sinaliza a hipótese de apoiar correntes políticas nacionalistas em países europeus, descritas como patrióticas, o que acende debates sobre interferência externa em eleições e na vida política interna.

Consequências para a América Latina

Para a América Latina, a leitura do documento sugere um redesenho de relações que privilegia alinhamentos com governos de direita e uma presença norte-americana mais visível como forma de conter a influência chinesa. O texto cita casos que, segundo analistas, foram interpretados localmente como sinais de interferência dos EUA antes de eleições ou crises políticas.

Casos citados no paralelo com a região incluem menções a Argentina, onde governos de liderança liberal receberam apoio econômico próximo a eleições, bem como ações de clemência a ex-presidentes em Honduras e críticas a decisões judiciais que atingiram figuras associadas a movimentos percebidos como alinhados ao rivalry político brasileiro. Esses exemplos ilustram uma estratégia voltada a moldar o contorno político regional.

Rumo a uma nova relação transatlântica

Especialistas veem a possibilidade de que, se a estratégia prevalecer, a Europa precise redefinir seus planos de autonomia estratégica, fortalecendo defesa, cooperação econômica e instrumentos diplomáticos para negociar com Washington sem abrir mão de seus valores democráticos.

Esse redesenho também coloca China e Rússia como referências em novas dinâmicas de poder, exigindo coordenação mais estreita entre aliados para manter equilíbrio, defesa coletiva e uma ordem internacional estável. A leitura é de que a relação transatlântica entraria em uma fase de renegociação, com passos concretos para evitar rupturas e preservar cooperação em áreas cruciais.