Em depoimento prestado à CPI da Pandemia, nesta terça-feira (4), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou ao senador Eduardo Braga (MDB/AM) que não faltaram recursos federais para socorrer o Amazonas diante do avanço da Covid-19. “Não houve falta de dinheiro, e eles (Estado e municípios) tomaram as decisões da compra dos seus equipamentos”, disse. “Faltaram competência, gestão, transparência e fiscalização”, concluiu o parlamentar amazonense.
Aos integrantes do colegiado, Mandetta enumerou fatores que podem ter culminado no colapso registrado nas unidades de saúde do Estado no começo de 2021. Entre eles, as substituições no comando da Secretaria de Estado de Saúde e os conflitos de gestão entre a Prefeitura de Manaus e o Governo do Estado.
“A impressão que eu tenho é de que lá houve uma interrupção. Eu falava com um secretário e, daqui a pouco, me ligavam e falavam: não, foi demitido aquele, agora vem um outro”, declarou. “Aí entrou uma secretária que não era de lá, que não conhecia a rede, não conhecia o ministério”, afirmou o ex-ministro, numa referência à biomédica paulista Simone Papaiz, que assumiu a secretaria em 8 de abril de 2020.
Diante desse cenário, o então chefe da pasta da Saúde contou ter enviado para a capital amazonense um grupo de médicos especialistas em gestão de crise para, segundo ele, “poder mediar o conflito entre prefeitura e Estado”.
Mandetta salientou que a sucessão de acontecimentos relacionados à crise da Covid-19 ocorrida em território amazonense destoa do que houve em outras unidades da federação. Ele se colocou, inclusive, à disposição para ajudar os manauaras a não passarem por uma crise sanitária que começou em 2019, com o surto de H1N1, se estendeu em 2020, com a primeira onda de Covid-19, e tomou proporções gigantescas no início deste ano, com cidadãos contaminados pelo coronavírus agonizando por falta de oxigênio e leitos e famílias enterrando seus mortos em valas comuns.
Homenagem aos profissionais
O senador Eduardo aproveitou os questionamentos ao ex-ministro para prestar uma homenagem aos profissionais de saúde. “Verdadeiros heróis porque eles estão há um ano, dois meses e nove dias, na linha de frente do combate”, disse.
O parlamentar perguntou a Mandetta, ainda, se não deveria ter sido estabelecida uma barreira sanitária nos aeroportos brasileiros para conter a proliferação do coronavírus no país. “Muito provavelmente nós teríamos conseguido frear ou desacelerar o ritmo da pandemia. Essa é uma opinião”, declarou Eduardo, que ainda direcionou dois questionamentos ao ex-ministro: “Por que nós não conseguimos pegar a definição bem-sucedida de protocolos dos hospitais de ponta e não unificamos no Brasil e por que não estabelecemos um planejamento e um treinamento de profissionais? ”
Mandetta concordou a respeito das barreiras, mas ponderou que, no início da pandemia, não havia proibição de voos nem recomendação para isso. “Mas deveríamos ter mais fiscais de vigilância, principalmente em portos e aeroportos? Sim”, afirmou.
Sobre os protocolos, disse que, enquanto esteve à frente do Ministério da Saúde, foram definidos alguns, como o de suporte de oxigênio. “Nós começamos fazendo ventilação com alta pressão, depois de 60 dias eles viram que a pressão mais baixa do ventilador dava uma condição melhor, com ciclos menores. A padronização também foi a posteriori. A fisioterapia respiratória, inclusive, trabalhou demonstrando muita coisa por produção. Do início, nós saímos do zero e fomos construindo”, explicou.
Ao responder o terceiro questionamento do senador amazonense, o ex-ministro declarou que a inexistência de uma educação continuada dos profissionais de saúde é um problema “muito grave” no Brasil. “A enfermagem brasileira está fazendo curso a distância. Há algumas coisas que são discussões pertinentes para esta Casa, de pano de fundo, que eu acho que essa pandemia vai exigir de todos nós uma reflexão muito séria sobre a qualidade desses profissionais. ”
Com informações da assessoria