
Com a reunião entre Mercosul e União Europeia marcada para o próximo sábado em Foz do Iguaçu, o presidente Lula intensificou nos últimos dias a cobrança direta a Paris e Roma para que assumam um compromisso público de assinatura do pacto comercial. A definição dos europeus é vista como decisiva para abrir mercados ao agronegócio brasileiro, mas a questão suscitou resistências internas no bloco, especialmente em relação a produtos agrícolas.
O pedido de Brasília e a pressão sobre líderes europeus
Em conversas com autoridades estrangeiras, o presidente destacou que a UE tem vontade de avançar, mas que dirigentes como o francês e a italiana têm receios políticos sobre a percepção dos agricultores locais. Lula pediu que ambos os governos confirmem a presença com uma sinalização clara de que irão assinar o acordo na cúpula, no que classificou como uma responsabilidade diplomática diante do processo de 26 anos de negociações.
O papel da Itália ganhou destaque porque, ao lado da França, pode ser determinante na votação do Conselho Europeu. A expectativa de Brasília é que uma posição favorável desses governos permita a formalização do tratado já na próxima reunião entre os blocos.
Alterações aprovadas no Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu aprovou mecanismos de salvaguarda para importações agrícolas vinculadas ao acordo, em texto mais rígido do que a proposta original apresentada pela Comissão Europeia. As medidas permitem, em circunstâncias definidas, a suspensão temporária de benefícios tarifários concedidos ao Mercosul caso algum setor do agro da UE seja considerado prejudicado.
Como o conteúdo foi endurecido, cabe agora ao Parlamento negociar com o Conselho Europeu — órgão dos governos nacionais — um texto final. Essas conversas são o próximo passo institucional antes de qualquer assinatura formal.
Calendário e barganha política em Bruxelas
Fontes diplomáticas indicaram que as negociações interinstitucionais começaram já na semana da votação. O Conselho tem calendário apertado, com reuniões previstas que podem levar a um voto final ainda antes do fim de semana. Para autorizar a Comissão a concluir o acordo, o Conselho precisa de maioria qualificada, que combina número de Estados-membros e porcentagem da população do bloco.
Entre os países, a França figura como o principal obstáculo: agricultores franceses têm manifestado preocupação com competição de produtos sul-americanos. A Itália, por sua vez, surge como eixo de decisão em razão da combinação de sensibilidade interna e peso político no conjunto. Outros Estados exibem posições variadas — desde reserva à intenção de abster-se —, o que torna o desfecho imprevisível.
Impacto para o agronegócio e riscos do acordo
Para o Brasil, a ratificação significaria acessos tarifários ampliados e potencial expansão de exportações agrícolas. Ao mesmo tempo, o texto das salvaguardas preserva mecanismos para mitigar choques setoriais na Europa, o que pode limitar ganhos imediatos ou impor condições de monitoramento e revisão.
Empresários e lideranças rurais acompanham de perto: há preocupação sobre como serão aplicados gatilhos de proteção e sobre concessões negociadas ao longo do processo. No plano político, o governo brasileiro aposta na diplomacia direta para reduzir objeções e garantir que a assinatura ocorra durante a cúpula.
Até a abertura da reunião em Foz do Iguaçu, prevalece um jogo de pressão mútua e negociações técnicas entre instituições europeias e governos nacionais. O resultado dependerá tanto do texto final das salvaguardas quanto da capacidade de líderes europeus de arrebanhar votos suficientes para autorizar a assinatura do tratado.





