Quatro dias após o indiciamento do senador Eduardo Braga (MDB) pela Polícia Federal, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), foi visto ao lado do parlamentar em evento público. O encontro ocorreu na última terça-feira (24/09), quando ambos participaram da assinatura de contratos na sede da Caixa Econômica Federal (CEF), relacionados ao programa “Minha Casa, Minha Vida” em Manaus. Eduardo Braga, além de ser um dos principais articuladores políticos da Prefeitura junto ao Governo Federal, também é um dos principais defensores do presidente Lula no Congresso.
O fato chama atenção, já que, em meio ao escândalo que envolve seu principal aliado político, David Almeida se mantém próximo de Braga, ao mesmo tempo em que evita utilizar sua imagem em sua campanha eleitoral. Braga é acusado de envolvimento em um esquema de propinas ligadas ao antigo grupo Hypermarcas (atual Hypera Pharma), no qual, segundo a Polícia Federal, teria recebido cerca de R$ 20 milhões, ao lado de outros senadores do MDB, como Renan Calheiros e Romero Jucá. O indiciamento é parte de um desdobramento da Operação Lava Jato, que investigou ações de políticos em troca de favorecimentos no Congresso.
A proximidade entre David Almeida e Eduardo Braga
Durante a assinatura dos contratos para a construção de residências pelo programa habitacional, Braga não hesitou em se pronunciar sobre o impacto da parceria com a Prefeitura de Manaus: “O programa habitacional na cidade de Manaus é o resgate de uma dívida social que quase há uma década estava ausente de investimentos do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’”. Mesmo com o indiciamento recente, Braga se manteve firme em seu papel como mediador entre a prefeitura e o governo federal, mostrando que o episódio ainda não parece afetar a relação política entre ele e David Almeida.
Esse evento reforça a parceria antiga entre os dois, já que David Almeida começou sua carreira política no grupo de Braga e, agora, conta com seu apoio para o pleito de 2024. Entretanto, embora Braga seja uma figura de peso nos bastidores, o prefeito optou por esconder seu aliado em seu horário eleitoral, o que pode ser um reflexo da alta rejeição de Braga entre os eleitores manauaras.
O Escândalo da Hypermarcas
O escândalo que envolve Eduardo Braga surgiu a partir de investigações da Lava Jato, que apuraram a atuação do senador e outros membros do MDB em favorecimento à Hypermarcas em projetos de lei que tramitavam no Senado, nos anos de 2014 e 2015. De acordo com o relatório da Polícia Federal, a empresa pagou cerca de R$ 20 milhões em propina a Braga e a outros envolvidos, como o senador Renan Calheiros, em troca de apoio a projetos de interesse da Hypermarcas, incluindo incentivos fiscais.
Além disso, o relatório aponta que o senador Renan Calheiros teria indicado nomes para a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o objetivo de facilitar os interesses da Hypermarcas. O empresário Milton Lyra, apontado como o intermediário das negociações, também foi indiciado. A investigação é baseada na delação premiada de Nelson Mello, ex-diretor da Hypermarcas, que confessou ter firmado contratos fictícios para viabilizar o repasse de propinas aos senadores.
A estratégia eleitoral de David Almeida
Embora David Almeida conte com o apoio de Braga nos bastidores, sua estratégia eleitoral mostra um distanciamento calculado do senador. Desde o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, no final de agosto, o prefeito evitou associar sua imagem à de Braga, em função da rejeição crescente que o senador enfrenta desde as eleições de 2014, quando foi citado em delações ligadas à Lava Jato.
A rejeição de Braga em Manaus se reflete, também, no desgaste da imagem do presidente Lula, de quem o senador é um forte aliado. Pesquisas recentes indicam que a popularidade de Lula na capital amazonense está em torno de 40%, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro, que conta com apoio maciço na região, possui quase 60% de aprovação. Nesse contexto, a presença de figuras ligadas ao PT ou ao MDB pode prejudicar ainda mais a imagem de Almeida entre o eleitorado local.
Contradições no discurso de David Almeida
A proximidade com Eduardo Braga também levanta questionamentos sobre o discurso de renovação política que David Almeida defendeu em eleições passadas. Em diversas ocasiões, o prefeito afirmou que seu objetivo era “aposentar os caciques políticos” do Amazonas, referindo-se a figuras como Eduardo Braga e Omar Aziz, outro senador de longa trajetória no estado. Em 2020, durante a disputa pela Prefeitura de Manaus, David declarou que estava “fechando a cortina da história” para a geração de políticos tradicionais que, segundo ele, tiveram tempo e dinheiro para transformar o estado, mas não o fizeram.
Agora, no entanto, o prefeito parece ter abandonado essa retórica, ao se aliar a Braga e Aziz em sua campanha para a reeleição. Essa mudança de postura pode ser vista como uma estratégia pragmática para garantir o apoio de figuras influentes em Brasília, especialmente em um cenário de fortes rejeições e pressões políticas locais.
