Silves e Itapiranga enfrentam possibilidade de interdição: população e autoridades alertam para o risco de “Cidades-Fantasmas”
A iminente ameaça de interdição dos municípios de Silves e Itapiranga, no Amazonas, trouxe inquietação a suas populações. O temor é desencadeado pela proposta de uma portaria de restrição de uso, recomendada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), sob a justificativa da possível presença de povos indígenas isolados na região do Igarapé do Caribi. Para os moradores, comerciantes e autoridades locais, a medida pode levar a um colapso econômico e social sem precedentes.
Investimento bilionário em Risco
A área de Silves abriga o Complexo Azulão, um empreendimento de gás natural da Eneva, que representa um investimento de R$ 6 bilhões. O projeto não apenas sustenta a economia local, mas também é crucial para o abastecimento energético de Roraima, cuja capital, Boa Vista, depende do gás natural da região para 70% de sua energia elétrica. A paralisação das atividades ameaça mergulhar o estado vizinho em apagões e impactar a infraestrutura de saúde, educação e transporte nos municípios do entorno.
Indígenas ssolados: fatos e contradições
A justificativa do MPF e da Funai para a interdição baseia-se em um suposto avistamento de indígenas isolados, sustentado por relatos de ONGs e uma fotografia de 2023, cuja autenticidade foi questionada. O perito forense Allan Reis, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), analisou a imagem e concluiu que há indícios de manipulação digital. Por outro lado, uma expedição da Funai realizada em 2024 encontrou apenas um artefato indígena na área, levantando dúvidas sobre a presença desses povos na região.
Impactos econômicos e sociais
Caso a portaria seja sancionada, as consequências para Silves e Itapiranga seriam devastadoras:
- Desemprego em Massa: Cerca de 1.500 trabalhadores diretos e milhares de empregos indiretos vinculados ao Complexo Azulão seriam extintos.
- Redução da Arrecadação: Silves, que arrecada cerca de R$ 2,2 milhões mensais em royalties e impostos, enfrentaria uma queda abrupta em sua receita.
- Retrocesso Econômico: O aquecimento econômico gerado pela exploração do gás, que impulsionou o comércio local, hotéis e restaurantes, seria interrompido.
- Isolamento Logístico: A interdição das rodovias AM-330 e AM-363 desconectaria os municípios do restante do estado.
Posicionamento das autoridades locais
Na sessão plenária da Câmara Municipal de Silves, realizada em 25 de novembro, vereadores e o prefeito Paulino Grana destacaram a gravidade da situação. Para o vereador Thomaz Silva, presidente da Câmara, a medida trará desemprego em massa e estagnação econômica. Já o vereador Luís Carlos China alertou para o isolamento que a interdição trará às comunidades ribeirinhas.
A vereadora Lia Elma, por sua vez, criticou decisões tomadas à distância, por autoridades em Brasília, sem um conhecimento real da realidade local. “É inadmissível que nossa população sofra com decisões que desconhecem nosso território”, afirmou.
Mobilização contra a interdição
Para enfrentar a ameaça, os vereadores e o prefeito prometeram unir esforços. Uma moção de repúdio será enviada ao MPF e à Funai, e uma carta aberta pedirá a revisão da portaria de restrição de uso. Segundo o prefeito Paulino Grana, a interdição resultaria em “caos econômico e social”, colocando em risco projetos como a policlínica recém-inaugurada e a escola técnica de tempo integral, ambos frutos de investimentos da Eneva.
Reflexos em Itapiranga e cidades vizinhas
Embora não receba royalties do gás, Itapiranga experimentou um “boom” econômico devido à proximidade com Silves. O comércio local, hotéis e restaurantes prosperaram, mas essa ascensão está ameaçada. Segundo Fábio Viana, secretário de administração de Itapiranga, o fechamento das empresas resultará em milhares de desempregados e em um retrocesso econômico para a cidade.
Questão energética e impacto regional
A importância do Complexo Azulão vai além dos municípios diretamente envolvidos. O gás natural abastece a usina Jaguatirica II, responsável por boa parte da energia de Roraima. Sem o fornecimento, especialistas projetam apagões em menos de uma semana, expondo o estado vizinho a uma crise energética.
O papel da Assembleia Legislativa
O deputado estadual Sinésio Campos, presidente da Comissão de Geodiversidade, Minas, Gás e Energia, destacou que a exploração de gás no Amazonas só é possível graças à quebra do monopólio aprovada em 2021. Ele reforçou a necessidade de aproveitar as riquezas minerais do estado de forma sustentável, criticando iniciativas que ameaçam interromper investimentos de grande porte.
Enquanto autoridades locais e estaduais intensificam os esforços para barrar a medida, a situação exige um debate mais amplo sobre a compatibilização entre o desenvolvimento econômico e a proteção dos povos indígenas, garantindo que decisões sejam tomadas com base em evidências concretas e diálogo com as comunidades afetadas.
As informações são do portal BNC Amazonas