Fábricas secretas na Ucrânia produzem mísseis de longo alcance e sinalizam autossuficiência bélica com o Flamingo


À medida que a guerra se estende, a Ucrânia acelera a produção interna de armas de longo alcance para manter capacidade de resposta e reduzir vulnerabilidades a interrupções externas. O projeto Flamingo — um míssil de cruzeiro com alcance estimado em até 3 mil quilômetros — simboliza essa virada: produção doméstica com foco em autonomia tecnológica e maior controle sobre a cadeia de suprimentos.


Como nasceu a iniciativa e quem está por trás

A Fire Point, startup que já figura entre as maiores fornecedoras de drones e mísseis do país, está no núcleo dessa estratégia. A equipe, liderada por Denys Shtilerman (cofundador) e Iryna Terekh (diretora técnica), defende que a autossuficiência é essencial para manter operações independentes mesmo em cenários de sanções ou cortes de fornecimento. A produção já envolve centenas de componentes e drones por mês, com prioridade para itens fabricados na Ucrânia e restrições a alguns fornecedores estrangeiros.


Os protótipos do Flamingo, cuja aparência evoluiu para o tom preto — segundo os gestores, para melhor adequação operacional — são apresentados como avanços de uma linha de produção que transforma pesquisa em produção de larga escala. Conforme explicam, não há uma “arma milagrosa”, mas sim uma estratégia de ampliar a capacidade de ataque profundo da Ucrânia a partir de recursos nacionais.

Papel do apoio ocidental e a estratégia de autossuficiência

O apoio militar ocidental, que foi robusto nos primeiros anos da guerra, passou por reavaliações políticas ao longo do tempo. Enquanto a Europa tenta compensar lacunas, a liderança ucraniana enfatiza que a autossuficiência não substitui alianças, mas as complementa — reduzindo a dependência de componentes críticos. A Fire Point afirma que manter a cadeia de suprimentos interna é parte essencial da estratégia, ainda que peças-chave continuem dependendo de mercados internacionais em geral.

Especialistas ressaltam que esse caminho envolve custos substanciais, logística complexa e a necessidade de proteger infraestruturas de pesquisa — especialmente em uma região marcada por ataques constantes.

Impactos estratégicos e limites práticos

Do ponto de vista estratégico, ampliar a capacidade de ataque de longo alcance pode reconfigurar o equilíbrio entre as linhas de frente e alvos estratégicos no interior do território inimigo. Porém, o esforço também carrega riscos de escalada e de impactar civis e redes críticas. Autoridades militares destacam que ataques de longo alcance impõem custos à economia do adversário e, ao mesmo tempo, exigem proteção de cadeias de suprimentos e de tecnologia sensível.

Dados oficiais apontam perdas significativas na economia russa associadas a operações de longo alcance, sinalizando o efeito dissuasor que a Ucrânia tenta alcançar com maior autonomia. A experiência recente reforça que o avanço tecnológico não substitui a necessidade de alianças políticas e de suporte logístico contínuo.