El Niño e ENOS moldam o ecossistema marinho do Atlântico e podem alterar a pesca na África e na América do Sul, aponta estudo


Um estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment amplia a compreensão de como o El Niño–Oscilação Sul ENOS atua no Atlântico, indo além do Pacífico para explicar impactos sobre chuva, ventos, salinidade, nutrientes e oxigênio nas águas. Os pesquisadores destacam que o ENOS pode intensificar ou reduzir a atividade pesqueira em regiões da África e da América do Sul, dependendo do estoque, da estação do ano e de outras variações climáticas.


Como o ENOS funciona e por que importa para o Atlântico

O ENOS é a oscilação entre fases de aquecimento (El Niño) e resfriamento (La Niña) no Pacífico Equatorial. O estudo reúne evidências de como essas flutuações mudam padrões de chuva, ventos, temperatura da superfície, salinidade e a descarga de grandes rios, alterando a disponibilidade de nutrientes e oxigênio. Essas mudanças afetam o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha, e se refletem na abundância de peixes e crustáceos com valor comercial.


Impactos regionais no Norte do Brasil, Sul do Brasil e no Atlântico Central

No Norte do Brasil, o ENOS pela via tropical tende a reduzir as chuvas na Amazônia, o que diminui a pluma fluvial que leva nutrientes para as águas costeiras do norte e nordeste. A menor descarga de nutrientes pode reduzir a produtividade pesqueira em algumas áreas, embora possa favorecer a captura de camarão marrom pela menor turbidez da água e maior penetração de luz solar.

No Sul do Brasil, o ENOS pela via extratropical costuma acompanhar maior volume de chuvas, com aumento de água doce e nutrientes que pode favorecer determinados grupos de pesca, como observado em anos recentes, incluindo 2024, no Rio Grande do Sul.

Na região central do Atlântico Sul, o fenômeno tem sido associado ao aumento da captura de albacora, espécie amplamente explorada comercialmente.

Desafios para previsão e manejo

Os autores apontam lacunas no conhecimento, como séries históricas limitadas de dados pesqueiros e limitações das observações por satélite. Eles defendem o desenvolvimento de modelos quantitativos com estimativas de incerteza para separar sinais de ENOS de outras variabilidades climáticas. Também sugerem um monitoramento oceânico coordenado, com redes existentes, integração de observatórios costeiros, padrões comuns de dados e séries temporais comparáveis para orientar políticas locais de manejo.

Com informações da Agência Brasil