Direita passa a governar metade da América do Sul após vitória de José Antonio Kast no Chile; entenda os impactos


A eleição de José Antonio Kast para a Presidência do Chile neste domingo (14) redesenha o mapa político da América do Sul: a vitória contribui para que a direita governe seis dos 12 países do continente, um equilíbrio que transforma prioridades governamentais, acordos regionais e a dinâmica das próximas disputas eleitorais.


O novo equilíbrio ideológico e o que mudou

O resultado no Chile consolida uma divisão parelha entre forças de esquerda e direita na região. Movimentos eleitorais recentes — como a ascensão de lideranças conservadoras em alguns países e a alternância no Uruguai, onde Yamandú Orsi assumiu em março de 2025 — mostram que o mapa sul-americano segue em fluxo, sem hegemonia clara para nenhum dos lados.


Nos últimos anos, ciclos econômicos e choques externos, como a variação nos preços de commodities, moldaram a capacidade dos governos de implementar políticas sociais e econômicas. Quando os recursos abundavam, plataformas progressistas cresceram; quando diminuíram, setores conservadores retomaram espaço nas urnas.

O diagnóstico dos especialistas

Analistas consultados por esta reportagem destacam dois vetores centrais: um movimento pendular entre esquerdas e direitas e uma crescente polarização que dificulta o diálogo institucional. Para um cientista político com atuação em estudos estratégicos, a retomada de forças conservadoras nos últimos anos está relacionada ao esgotamento de um ciclo econômico favorável que sustentou governos progressistas no início do século.

Outra pesquisadora em Relações Internacionais aponta que a alternância ideológica é própria de democracias, mas ganha contornos problemáticos quando ocorre em ambientes de instituições frágeis e desigualdade persistente. Nesses cenários, a frustração social favorece discursos simplificadores, promessas de solução rápida e, em casos extremos, a tolerância a práticas autoritárias.

Riscos para a integração e a estabilidade

A divisão ideológica mais equilibrada pode preservar um pluralismo institucional, mas também traz riscos concretos. A polarização tende a reduzir capacidade de negociação entre governos, dificultando iniciativas regionais em temas como segurança, combate ao crime organizado, migrações e resposta a crises humanitárias, incluindo a situação da Venezuela.

Além disso, fragilidades institucionais — conflito entre Executivo e Legislativo, judicializações de disputas políticas e frustrações eleitorais — aumentam o risco de erosão do Estado de Direito quando atores tentam resolver impasses fora das vias democráticas.

O que observar nos próximos meses

Nos próximos meses, vale acompanhar como o novo governo chileno priorizará políticas externas e econômicas, se haverá realinhamentos em blocos regionais e qual será o tom do debate público interno. Também será importante monitorar eleições em outros países sul-americanos e sinais de contenção ou escalada da polarização política.

Em síntese, o mapa político mais equilibrado da América do Sul não garante estabilidade automática: abre espaço tanto para cooperação pragmática entre governos de orientações distintas quanto para confrontos que exigirão instituições fortes e disposição ao diálogo para serem administrados.