Criança negra é chamada de ‘cocô’ e leva cuspida no rosto em escola

Pais de uma criança de 4 anos afirmam que sua filha foi chamada de “cocô” e que levou uma cuspida no rosto de um menino da mesma idade em uma escola privada de Curitiba, o Sesc Educação Infantil. Imigrantes haitianos que estão há dez anos no Brasil, eles denunciam que a filha, Mary Kayne Belotte Elysse, sofreu racismo e defendem que o colégio não toma providências. Tudo isso aconteceu em apenas dois meses de aulas, os primeiros da vida letiva dela.

A escola, em nota, afirma que “nunca houve nenhum ato de preconceito ou discriminação dentro da entidade”. Também diz que é “contrária à intolerância e assume o compromisso de apurar situações de preconceito, discriminação e assédio” e que “adotou internamente diversas medidas para averiguação da veracidade dos fatos” no caso da filha dos imigrantes.

— Na primeira semana, o menino já chamou minha filha de cocô. A gente conversou com ela para incentivá-la a continuar estudando, que aquilo ia passar, mas, na semana seguinte, ele colocou o braço na frente dela e acabou que ela quebrou o punho — explica a mãe da criança, Frandeline Belotte.

Sobre este outro episódio, os pais da menina afirmam que o mesmo menino fez Mary Kayne tropeçar enquanto ela subia no escorregador e, com a queda, a menina quebrou o pulso.

A escola diz que câmeras de segurança apontam que a menina caiu sozinha. Questionada se nega que a menina tenha sido cuspida, a escola não respondeu.

Belotte diz que, após o episódio da queda do escorregador, foi até a escola com o marido, o poeta Reginald Elysee, conhecido como Rei Seely, e procurou a coordenação para uma conversa. Segundo ela, a pedagoga e a professora afirmaram que conversariam com a mãe do menino.

— Elas não me contaram, mas minha filha me disse que a mãe do menino trabalha na escola. A Mary Kayne ficou 15 dias afastada por causa do machucado e, quando voltou, essa mesma criança cuspiu na cara dela. Ele tem preconceito contra a minha filha e a professora só passa a mão na cabeça dele. Não fez nada, não tomou nenhuma providência — afirma a mãe de Mary Kayne.

Após ser cuspida no rosto, caso que os pais contam ter acontecido na segunda-feira da semana passada, a criança reclamou com a professora que, segundo ela, apenas afirmou que conversaria novamente com a mãe do menino.

— Isso me deixa tão magoada. Estou com ódio, indignada. Uma criança de quatro anos passando por isso! Minha filha ter sido cuspida me lembra o tempo da escrivadão em que o fazendeiro fazia o que quisesse com o escravo, até cuspir na cara.

Os pais denunciaram o caso ao Ministério Público e também ao Conselho Tutelar. Eles afirmam que aguardam a liberação do laudo médico da lesão da filha para registrarem um boletim de ocorrência. O casal também decidiu abrir mão da bolsa de estudo da criança e matricular a filha numa escola pública da capital paranaense.

Com informações do Extra.