Manaus, a “Cidade do Futuro” prometida pela atual gestão, foi recentemente exaltada como uma das 11 melhores cidades da América Latina para se visitar ou viver, segundo a renomada The Economist. O feito, amplamente divulgado pela prefeitura, parece ser um troféu de reconhecimento internacional. Contudo, para quem vive e enfrenta o dia a dia na capital amazonense, o contraste entre o discurso oficial e a realidade é gritante.
Buracos, bueiros e improviso: a realidade das ruas em Manaus
Enquanto a propaganda institucional pinta um cenário de progresso, a realidade das ruas conta outra história: buracos que mais parecem crateras, avenidas e ruas sem faixas de trânsito e bueiros sem tampa são a “paisagem” comum enfrentada pelos moradores. Em muitas áreas, os próprios cidadãos são forçados a improvisar soluções, tapando buracos com entulhos, galhos de árvores e até pneus velhos. Uma tentativa desesperada de evitar danos maiores a seus veículos e acidentes.
Os motoristas, por sua vez, são as maiores vítimas dessa negligência. Prejuízos com pneus estourados, suspensões danificadas e acidentes causados por bueiros afundados ou buracos mal sinalizados tornaram-se um fardo constante. As faixas da direita, em diversas avenidas de grande fluxo, tornaram-se armadilhas para quem trafega desprevenido.
Obras para poucos: o abandono da periferia
Além disso, cresce a percepção de que a gestão pública parece priorizar áreas de bairros mais ricos em detrimento de regiões periféricas. Enquanto vias em ótimo estado em bairros nobres recebem recapeamento constante, ruas de bairros populares, que são essenciais para o deslocamento diário de milhares de trabalhadores, são deixadas no abandono. Esse desequilíbrio é mais um reflexo de uma administração que prioriza o marketing em vez de atender às reais necessidades da maioria da população.
Alagamentos e deslizamentos: tragédias anunciadas
E se os problemas de infraestrutura não fossem suficientes, Manaus também enfrenta, ano após ano, alagamentos e deslizamentos de terra durante o período chuvoso. Tragédias previsíveis, mas que só recebem atenção quando vidas já foram perdidas ou bens destruídos.
É inegável que parte desse problema decorre da ocupação irregular de áreas de risco e da falta de conscientização dos próprios moradores, mas a pergunta que fica é: onde está o trabalho preventivo da prefeitura? Até onde se sabe, não há programas contínuos de educação e conscientização para essas comunidades. Um trabalho que deveria ir além de apenas remover famílias de áreas de risco após desastres, buscando prevenir tragédias com planejamento urbano eficiente, campanhas educativas e ações sustentáveis.
A contradição entre o discurso e a realidade
Se Manaus é realmente uma das melhores cidades da América Latina, como justificamos que seus moradores ainda convivam com ruas intransitáveis, deslizamentos recorrentes e alagamentos anuais? E mais: como podemos aceitar que vidas sejam colocadas em risco ano após ano, sem que haja um planejamento sério e integrado para mitigar essas situações?
Fica a reflexão: enquanto a prefeitura celebra prêmios internacionais e investe milhões em marketing, a população sofre com problemas cotidianos que poderiam ser resolvidos com o básico – infraestrutura de qualidade, planejamento urbano eficiente e educação cidadã. Não é o ranking que define a qualidade de uma cidade, mas sim a qualidade de vida de seus habitantes. O futuro que Manaus merece não está em discursos de autoelogio, mas na resolução dos problemas que, hoje, afetam a todos.