Relatos internos da Casa Branca vieram a público e mostram uma administração marcada por conflitos de estratégia e diferenças pessoais ao longo do primeiro ano do segundo mandato de Donald Trump. As declarações da chefe de gabinete, líder central na coordenação da agenda presidencial, lançam luz sobre como decisões cruciais foram debatidas — e, em vários casos, não revertidas — apesar de alertas de sua equipe.
A personalidade do presidente e a dinâmica com a chefia
Segundo a responsável pela organização do dia a dia do presidente, a convivência com Trump exige lidar com um comportamento marcado por intensidade e desejo de vingança quando confrontado por adversários. Ela disse que, embora o presidente não consuma álcool, sua postura lembra a de alguém que age com pressa e convicção absoluta de poder fazer qualquer coisa. No papel de chefe de gabinete, ela afirmou ver como função facilitar decisões, mais do que impedir impulsos — e reconheceu ter sido vencida em várias disputas internas.
Disputas políticas e temas centrais
Fontes internas relatam que a Casa Branca viveu debates acalorados sobre tarifas comerciais anunciadas recentemente, com conselheiros pedindo cautela e construção de consenso. A chefe de gabinete conta que tentou postergar medidas até lograr maior acordo, sem sucesso, e que a imposição das tarifas expôs fissuras profundas entre assessores econômicos e a ala que defende ações rápidas e contundentes.
No campo da imigração, ela admitiu falhas operacionais em deportações e defendeu revisão de procedimentos para evitar erros, propondo dupla checagem em casos duvidosos. A abordagem, segundo relatos, procurou equilibrar pressão por efetividade com a necessidade de procedimentos mais rigorosos.
Arquivos de Epstein, perseguições e críticas a aliados
As conversas também tocaram em episódios sensíveis, como a gestão dos arquivos associados ao caso Jeffrey Epstein. A chefe de gabinete disse ter lido documentos que mencionam o nome do presidente, mas sustentou que não havia indícios de envolvimento em condutas graves. Ela criticou a condução inicial dada por alguns aliados à divulgação desses documentos como um erro estratégico.
Além disso, foram mencionadas motivações de retaliação em decisões judiciais e investigações, entre elas episódios em que o presidente teria buscado rebaixar ou processar adversários políticos. Essas passagens reforçam a percepção de que sentimentos pessoais podem, em determinados momentos, orientar iniciativas oficiais.
Elon Musk, USAID e limites à reforma administrativa
Outro ponto de atrito descrito nos relatos envolve a intervenção do empresário Elon Musk na estrutura do organismo de cooperação externa do governo. A chefe de gabinete declarou ter se oposto ao desmonte de programas de assistência, questionando o método adotado e a eficácia de excluir servidores e cortar quadros sem substituição adequada. A postura gerou constrangimentos e repercussão entre funcionários públicos.
Vice-presidente e alinhamentos políticos
A chefia também comentou a relação entre o presidente e seu vice, descrevendo a trajetória do vice-presidente como um movimento pragmático que aproximou um crítico anterior a um apoio mais alinhado com a Casa Branca. O relato aponta que alianças políticas e ambições eleitorais contribuíram para reconfigurar posições dentro do núcleo do poder.
Perdões do 6 de janeiro e limites da influência
Em debates sobre possíveis indultos a participantes do ataque de 6 de janeiro de 2021, a chefe de gabinete disse ter alertado contra medidas que poderiam gerar impacto político e institucional. Ainda assim, ela não conseguiu impedir a inclinação do presidente em favor de posturas mais lenientes em algumas frentes, o que evidencia os limites do cargo na hora de conter impulsos presidenciais.
Reação pública e defesa interna
Após a divulgação dos relatos, a própria chefe de gabinete criticou a forma como suas palavras foram apresentadas, alegando que trechos foram retirados de contexto e que a peça divulgada buscou moldar uma narrativa negativa. A equipe do governo respondeu em uníssono, com porta-vozes e aliados elogiando sua lealdade e trabalho para organizar a agenda presidencial, e figuras próximas ao presidente reafirmaram confiança no seu desempenho.
Os depoimentos expõem um retrato de governança em que decisões estratégicas, pessoais e institucionais se sobrepõem. Para analistas, as tensões internas podem influenciar a capacidade do governo de manter coesão em temas sensíveis à opinião pública e à comunidade internacional.
O que fica: relatos de bastidores confirmam que, mesmo com uma chefia mais estruturada do que no mandato anterior, a Casa Branca ainda enfrenta disputas sobre prioridades e métodos — de comércio e imigração à gestão de crises e relações com aliados empresariais — e que a figura do presidente continua a moldar desfechos políticos quando o impasse persiste.





