
Nesta quinta-feira (20), o 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), sob o comando do delegado titular Cícero Túlio, apresentou a conclusão do Inquérito Policial (IP) relacionado à Operação Mandrágora, que apurou a existência de uma seita religiosa responsável por fornecer e distribuir a substância ketamina, além de incentivar e promover o uso da droga. Djidja Cardoso foi encontrada morta na própria casa, na madrugada do dia 28 de maio, aos 32 anos, sua mãe, Cleusimar Cardoso, e seu irmão Ademar, são uma das 10 pessoas presas durante a investigação.
Conforme o delegado Cícero Túlio, inicialmente, Ademar e os residentes da casa de Djidja, já faziam uso de substâncias entorpecentes, como maconha, chás, cogumelos e substâncias sintéticas. “A partir do momento em que o Ademar passa do nível de vício um pouco mais avançado, eles decidem encaminhá-lo para a Inglaterra, onde ele residiu em Londres com sua ex-companheira. Pelos relatos dela, lá em Londres ele continua o uso de entorpecentes e acaba tendo um contato inicial com a ketamina, onde é bastante utilizado lá. Em Londres, inclusive, ele passa a torturar sua ex obrigando-a a utilizar essa mesma substância. Então, em razão de problemas com fornecedores desse material, ele acaba retornando ao Brasil, meio que fugindo de ações de criminosos lá de Londres”, disse.
Ainda de acordo com a autoridade policial, ao retornar para o Brasil, Ademar se separa da ex, e conhece a Audrey, que também figura como vítima. “A partir do momento em que ele busca receber esse tipo de entorpecente, Audrey revela que conhecia um casal que possivelmente poderia ter facilidade na compra nesse tipo de medicação. E aí, eles encontram esse casal em festas e raves aqui de Manaus, passam a ter contato com eles, e eles apresentam a ketamina na forma de pó”, relata.
Cartas de Cristo
Segundo o delegado, nessa oportunidade Cleusimar, mãe de Djidja, já estava realizando estudos sobre as Cartas de Cristo, que é uma obra literária vendida no Brasil, e passam a convidar esse casal de amigos pra fazer parte dos cultos e meditações. “Esse casal apresenta esse entorpecente pra própria Cleusimar, ela que tem vasto conhecimento na área da química, haja vista que é formada em química por uma universidade do Amazonas. A partir de um dado momento, esse casal de amigos se afasta da família porque não coaduna com as práticas que eram realizadas durante os cultos dessa seita religiosa”, informou.
Em coletiva de imprensa, o delegado relata que o casal se afastou da família Cardoso porque eles induziam as pessoas a usar ketamina. “Existe aí um início de estudo sobre os elementos químicos que formam a composição da ketamina, justamente pra que a família pudesse verificar qual seria a forma mais rentável pra eles na sua utilização. E eles passam a fazer testes neles mesmos, e acabam descobrindo que a forma de injetável renderia mais usos”, disse.
Seita religiosa
Ainda segundo o delegado, a partir desse momento a família Cardoso começa a expandir essa seita religiosa e também a induzir os funcionários do salão de beleza em que eram proprietários. E então, eles começam a sentir dificuldade pra comprar a ketamina. “E então se aproxima novamente da família o Bruno (ex da Djidja), ela que fazia parte também do esquema criminoso como uma das pessoas que induzia os funcionários da rede de beleza a utilizar esse tipo de medicação”, conta.
Cícero detalha que Bruno se aproxima da família e passa a integrar a seita religiosa. “A partir do Bruno, ele apresenta o Hatus que seria uma ponte de ligação entre os Cardoso e um dos fornecedores que seria o José Máximus, haja vista que o Hatus já fazia utilização de sustâncias utilizadas no ramo veterinário”, confirmou.
Tortura
Conforme Túlio, a Polícia Civil conseguiu identificar a partir das mídias encontradas nos telefones dos autores, que Ademar figura como autor do crime de tortura em relação a Audrey e sua ex-companheira, e Cleusimar passaria a cometer abusos na forma de tortura contra a Djidja. “Djidja estaria numa situação de quase morte, já estava numa situação em fase terminal. E a partir de uma análise, conseguimos então a confirmação e constatação que existia um crime de tortura praticado pela Cleusimar em relação a Djidja”, acrescentou.
Criação de comunidade
Ainda em coletiva, o delegado informou que os autores tinham discernimento das práticas criminosas, tanto que eles arquitetavam a criação de uma clínica veterinária pra que pudessem adquirir com maior facilidade a ketamina. “Eles também almejavam a criação de uma comunidade, a partir da compra de um terreno na Zona Norte, pra fins de criar uma espécie de vila onde as pessoas iriam residir ali naquele ambiente e fazer uso indiscriminado da ketamina, além de promover os cultos de forma criminosa”, contou.
A autoridade policial encerrou a coletiva informando que se Djidja estivesse viva, ela teria sido um dos alvos da operação. “Infelizmente ela veio a óbito em razão do uso indiscriminado desse tipo de substância, e tudo o que foi coletado durante a investigação aponta para a prática da tortura com resultado morte em relação a ela”, finalizou o delegado.