Brasil não assina comunicado do Mercosul sobre Venezuela: entenda o racha, o papel dos EUA e as implicações para a posição brasileira


Na cúpula do Mercosul realizada em Foz do Iguaçu, o Brasil optou por não assinar o comunicado conjunto sobre a Venezuela, abrindo um racha visível dentro do bloco. A nota, originalmente liderada pela Argentina, buscava tratar da crise política no país com ênfase em direitos humanos e na crise humanitária associada ao governo de Nicolás Maduro, mas encontrou resistência entre membros do bloco.


O que motivou a divergência dentro do Mercosul

Fontes do Itamaraty indicam que o Brasil aceitava mencionar direitos humanos e a crise humanitária, desde que o texto mantivesse um tom equilibrado. Em especial, o governo defendia incluir no documento um parágrafo que alertasse sobre a presença de forças militares internacionais no Caribe como potencial ameaça à soberania regional, para evitar que o comunicado soasse como apoio automático a ações externas, sobretudo dos Estados Unidos.


Para entender o contexto, vale lembrar que, desde agosto, os EUA vêm atuando na região com navios de guerra, caças e um submarino nuclear. Esse cenário tornou ainda mais sensível qualquer linguagem que pudesse sinalizar apoio ou legitimar intervenções externas.

Conflito de leituras e o desfecho da negociação

Os demais membros do bloco, incluindo o Uruguai, resistiram a inserir o alerta sobre a presença militar no Caribe. Diante da oposição, o Brasil se ausentou da formulação do texto final. Ofícios do Itamaraty ressaltaram que não houve consulta sobre a redação específica, levando a uma lacuna na posição comum do Mercosul.

A avaliação oficial é de que adotar uma linha que endossasse ações externas poderia ser interpretada como chancela às políticas dos EUA, algo que o governo brasileiro prefere evitar em um momento de delicadas relações regionais e internas com a Venezuela.

Contexto e desdobramentos para o Brasil

O episódio evidencia tensões históricas dentro do Mercosul sobre como tratar a Venezuela, equilibrando a defesa de direitos humanos e a soberania regional. Ele também expõe a influência de atores externos no discurso diplomático sul-americano e a cautela brasileira em não comprometer uma posição coletiva que possa ser percebida como alinhamento automático a ações de potências estrangeiras.

Não houve pronunciamento formal do governo brasileiro sobre o episódio até o fechamento deste texto, mas a situação deixa claro que o bloco ainda luta para articular uma leitura comum sobre a Venezuela, especialmente em temas sensíveis como soberania, intervenção externa e direitos humanos.

O que pode vir a seguir

Analistas apontam que é grande a possibilidade de o Mercosul tentar retomar o tema em novos formatos ou em futuras reuniões, buscando uma versão que concilie direitos humanos, democracia e soberania sem provocar rupturas internas. O episódio também alimenta o debate sobre o peso da influência externa na política regional e sobre como o Brasil pretende posicionar o bloco em relação à Venezuela e a demais questões estratégicas da região.