Bolsonaro pede, mas tentativas de congelar supermercados falharam

A quatro meses das eleições e com uma inflação acumulada de 11,73% em 12 meses até maio, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, fizeram um apelo em videoconferência a empresários do setor de supermercados. O presidente pediu “o menor lucro possível” na cesta básica e o ministro solicitou uma “trégua de preços”.

“Temos que dar agora juntos essa trégua nos preços, vamos ajudar a quebrar essa espiral inflacionária”, afirmou Guedes, pedindo que os empresários “apertem o cinto”.

O ministro da Economia aproveitou uma sugestão dada pelo presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Galassi, no discurso de abertura do evento, de que a tabela de preços da indústria para o varejo só seja corrigida em 2023. E fez o apelo aos empresários.

“Nova tabela de preços só em 2023. Travem os preços. Vamos parar de aumentar os preços por uns dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil”, disse.

O comportamento dos preços, em particular o dos combustíveis, tem sido a principal dor de cabeça para a campanha à reeleição de Bolsonaro.

O presidente, que já pediu aos caminhoneiros que fotografem placas com preços de combustíveis nos postos, solicitou ao empresariado que tenha “o menor lucro possível” com a cesta básica:

“O apelo que faço aos senhores, para toda a cadeia produtiva, para que os produtos da cesta básica obtenham o menor lucro possível para a gente poder dar uma satisfação a uma parte considerável da população, em especial aos mais humildes”, afirmou Bolsonaro, acrescentando que a margem de lucro dos empresários já diminuiu, mas pedindo que colaborem “um pouco mais”. “Se for atendido, agradeço muito. Se não for, é porque realmente não é possível.
Mais de 50 varejistas participaram da reunião e se comprometeram a repassar ao consumidor qualquer redução na cadeia produtiva. ”

Ao reforçar o pedido do presidente, Guedes frisou que o governo está baixando impostos e disse que o setor de supermercados está mais em contato com a população e sentindo a pressão e reclamação dos consumidores.

Não é a primeira vez que Bolsonaro faz esse tipo de apelo. Em 2020, diante da alta de itens básicos na cesta de compras do brasileiro, cobrou “patriotismo” do empresariado.

Na história recente do país, já coube à população o papel de fiscalizar preços na década de 1980, durante o governo de José Sarney (1985-1990), antes da estabilização da economia com o Plano Real. Na época, os “fiscais do Sarney” conferiam tabelas de preços distribuídas pelo governo e denunciavam os estabelecimentos que não seguiam o congelamento.