Em um relato comovente divulgado nas redes sociais, o atleta mundial de 23 anos, Lucas Carvalho, quebrou o silêncio e revelou ter sido vítima de abuso sexual durante a infância. Ele descreveu como foi manipulado e violentado pelo professor de jiu-jítsu Alcenor Alves Soeiro, 56, entre os 10 e 14 anos, enquanto participava de competições esportivas.
“Não queria ter que me expor, até porque é um trauma que tenho. Por muito tempo levei isso comigo, nunca tive coragem de falar para ninguém e era algo que me matava por dentro, um peso que eu carregava comigo. Fui abusado na minha infância pelo meu antigo professor desde 10 aos 14 anos de idade! Só agora adulto com 23 anos, tive coragem de desabafar com minha família”, relatou a vítima.
Alcenor foi preso em Balneário Camboriú, enquanto participava de um campeonato com os seus alunos. A prisão foi uma ação conjunta entre a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), e a Polícia Civil de Santa Catarina (PC-SC), deflagrada como a Operação Armlock.
“As investigações apontam que ele teria abusado de meninos que são campeões mundiais de jiu-jítsu e os teria explorado sexualmente, oferecendo presentes e favores, comprando kimono, mediando passagens e estadias para disputa de campeonatos”, contou a delegada Deborah Ponce de Leão, adjunta da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).
Confiança
Segundo a vítima, o agressor usava sua posição de confiança para atrair as crianças. Durante viagens para campeonatos, ele manipulava os jovens emocionalmente e administrava medicamentos que induziam o sono.
“Eu e outros amiguinhos apenas tínhamos um sonho de ser campeões mundiais, mas todos nós éramos manipulados e tínhamos que lidar com isso. Todas as vezes que eu viajava para competir com ele e outras crianças, ele sempre dava banho em todos nós e no final da noite mandava a gente tomar melatonina pra dormir bem e no outro dia acordávamos com pênis dolorido, sem saber o que tinha acontecido”, contou o atleta, dizendo que nunca nenhuma vítima teve coragem de denunciar.
Manipulação e abusos
O jovem relatou episódios específicos em que o agressor aproveitava a vulnerabilidade das crianças para cometer os abusos.
“Sim, ele me masturbava, beijava minha boca e me chupava! Eu apenas tinha 10 anos de idade e não sabia o que estava acontecendo, eu me tremia de nervoso e no final do dia chorava me perguntando por que aquilo estava acontecendo comigo. Ele sempre fez isso com crianças que não têm uma boa condição, ele procurava sempre me manipular e falava que me tinha como um filho, me prometia muitas coisas, mas eu era somente mais uma criança que estava sendo abusado em sigilo”, desabafou.
Impactos emocionais e luta contra o silêncio
Além do trauma dos abusos, a vítima enfrentou anos de isolamento e sofrimento psicológico.
“Tentei de várias formas não deixar isso afetar meu psicológico, mas só Deus sabe o que passei pra chegar até aqui!!! Já pensei em muitas vezes em me matar por conta disso, por não ter uma saída e sofrer em silêncio”, revelou.
A decisão de compartilhar a história foi descrita como um passo difícil. “Para o pessoal que está me julgando e questionando o porquê de eu vim falar isso só agora, nunca tive coragem de falar para ninguém. Carreguei comigo a anos e só agora tirei esse peso de mim, não tá sendo fácil! Mas tudo vai ficar bem”, declarou.
Lucas também revelou que nunca criou coragem de contar nem pra sua mãe, devido os impactos emocionais. “Minha mãe muitas das vezes me perguntava se estava acontecendo algo comigo, mas sempre chorei mentindo pra ela e só agora tive coragem de falar tudo”, revelou.
A vítima, inclusive, expôs um vídeo mostrando o professor indo até ele em uma academia, poucos dias antes de viajar, pedindo perdão e tentando comprar seu silêncio.
Recambiado
O professor responderá por estupro de vulnerável e favorecimento sexual e está à disposição da Justiça, aguardando recambiamento para Manaus.
“Ele será recambiado para Manaus o mais rápido possível, já estamos trabalhando nisso. Até o momento, temos cerca de 12 vítimas e temos uma média de seis vítimas ainda para serem ouvidas. Possivelmente, depois da prisão do autor, pode ser que apareçam outras vítimas”, confirmou a delegada adjunta da Depca.