A cada 4 hectares desmatados no país, um foi registrado no Pará, aponta o novo Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do Mapbiomas, apresentado nesta segunda (18). No estado, houve perda de 404 mil hectares de cobertura vegetal, principalmente por causa do garimpo e da agropecuário.
Em segundo lugar do ranking ficou o Amazonas, com redução de
— Duas regiões do país chamam muita atenção, a chamada Matopiba (entroncamento entre Maranhão, Piaui, Tocantins e Bahia), que concentra 77% do desmatamento do Cerrado e, no caso da Amazônia, a Amacro (fronteira do Amazonas com Rondônia e Acre), onde houve aumento de 28% do desmatamento e que já representa 20% do desmatamento da Amazônia — explica Tasso Azevedo, coordenador do Mapbiomas. — A perspectiva de abertura da BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho) vem resultando no aumento de ocupações e grilagens no entorno, como corredor para o agronegócio.
Na estatística geral, o desmatamento aumentou 20% no país, em relação a 2020. Em 20 estados do país, houve crescimento do dad. Em apenas cinco, Alagoas, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Amapá, houve redução, e no Tocantins e Roraima o dado permaneceu estável, na comparação com o ano anterior. Os maiores aumentos proporcionais, de mais de 80% na área detectada, foram registrados em Pernambuco, Paraíba, Ceará, Minas Gerais e Sergipe.
Ademais, treze estados superaram a marca de 1.000 alertas de desmatamento em 2021. Em 2020, haviam sido 11 estados, e em 2019, 10 estados.
Amazônia concentrou 59% da área desmatada e o Pará é campeão de desmatamento
No ano passado, mais de 977 mil hectares de vegetação nativa da Amazônia foram destruídos, número 15% maior que o registrado em 2020, que já havia crescido 10% em relação a 2019. Em seguida, o Cerrado e a Caatinga foram os biomas mais desmatados. No Pantanal, houve um aumento de 50,5% de alertas e de 15,7% na área desmatada em comparação a 2020. O RAD destaca que os alertas no Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal são subestimados, pois, nestes locais, predominam formações não florestais, cujo mapeamento é deficiente em relação ao que existe de detecção de vegetação nativa florestal, típicas da Amazônia e Mata Atlântica.
Em 77% dos casos é possível identificar responsáveis por desmatamento
Para a elaboração do RAD, o Mapbiomas se baseia em todos sistemas de alertas de desmatamentos que existe no país, como os do Inpe, da SOS Mata Atlântica e da Imazon. Esse levantamento resultou em 69.796 alertas, que foram refinados e cruzados com outros dados públicos, como os de Cadastro Ambiental Rural (CAR). Esse cruzamento, por exemplo, mostrou que 77% da área desmatada estava dento de imóvel rural cadastrado no CAR. Ou seja, é possível encontrar responsáveis pelos desmatamentos em pelo menos 3/4 dos casos.
“É necessário atacar a impunidade, e assegurar que todo desmatamento seja detectado e reportado, que todo desmatamento ilegal receba ação de responsabilização e punição dos infratores, como autuações ou embargo, e que o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente, além de ser punido, seja com restrições de crédito, impedimento de regularização fundiária, e exclusão de cadeias produtivas”, explica Tasso Azevedo, que destaca que os imóveis rurais com desmatamento desde 2019 (134 mil) são apenas 2,1% do total de imóveis rurais brasileiros. “A minoria causa impactos para todo o país. E é essa minoria que o governo quer proteger”.
Outros dados do relatório
- 69,5% de toda a área desmatada em 2021 estava em propriedades privadas; 10,6% em glebas públicas; 9,3% em terras públicas não destinadas; 5,3% em áreas protegidas, sendo 3,6% em Unidades de Conservação e 1,7% em Terras Indígenas.
- Nos últimos três anos (entre 2019 e 2021), houve crescimento do desmatamento em todas as categorias fundiárias, exceto em Terras Indígenas (TIs), “o que reforça a importância desses territórios para a preservação ambiental”, frisa o relatório.
- Um terço (33%) de todos os alertas detectados no Brasil em 2021 tem sobreposição com áreas registradas como Reserva Legal (RL).
- 252 UCs (11,6%) tiveram pelo menos um evento de desmatamento de pelo menos 1 hectare em 2021.
- Os maiores desmatamentos ocorreram nas TIs Apyterewa (8.247 ha), Trincheira Bacajá (2.620 ha) e Cachoeira Seca (2.034 ha), no Pará. Kayapó e Apyterewa foram as TIs com maior número de alertas em 2021, com 531 e 514, respectivamente.
- Embargos e autuações realizados pelo IBAMA e ICMBio atingiram apenas 2,4% dos desmatamentos e 10,5% da área desmatada identificada entre 2019 e 2021 (estatística atualizada até maio de 2022).