
Um adolescente de 17 anos foi condenado por crimes relacionados a atos de protesto na Venezuela após ser detido no dia em que a oposição saiu às ruas contra a posse de Nicolás Maduro para um terceiro mandato. Familiares e organizações de direitos humanos afirmam que a prisão ocorreu simplesmente porque a roupa do jovem chamou a atenção das autoridades, levantando questionamentos sobre o uso de acusações graves contra menores e sobre falta de devido processo.
Detenção, acusações e condenação
O jovem, identificado como Gabriel Rodríguez, foi abordado ao sair do trabalho em Cabudare, no estado de Lara, em 9 de janeiro. As autoridades o acusaram de terrorismo, incitação ao ódio e fechamento de vias públicas, mesmo sem indícios públicos de participação nos protestos daquele dia. Segundo relatos de familiares, não foram encontrados objetos ou provas que o ligassem a atos de violência.
Organizações locais, incluindo a Provea, informaram que a prisão ocorreu sem ordem judicial e classificaram a ação como desproporcional. Representantes da ONG disseram ainda que a forma de vestir do rapaz — um casaco e uma bermuda pretos — teria levado os agentes a identificá‑lo como um suposto “guarimbero”, termo usado pelo chavismo para estigmatizar opositores que participam de manifestações.
Contexto político e repercussões
Os protestos de 9 de janeiro marcaram resistência à reeleição de Maduro, cujo resultado foi amplamente contestado pela oposição e não reconhecido por Estados Unidos, União Europeia e a maioria dos países da região. Na mesma mobilização, cerca de 20 pessoas foram detidas e a líder opositora María Corina Machado foi presa após participar de uma marcha em Caracas.
Nos últimos meses, entidades como o Fórum Penal vêm documentando uma nova onda de prisões de opositores: a organização aponta ao menos 902 pessoas detidas por motivos políticos, enquanto outras estimativas chegam a mais de mil. Atos contra manifestantes e opositores têm provocado críticas de grupos de direitos humanos dentro e fora do país.
Reações locais e preocupações legais
Familiares de Rodríguez afirmam que ele não integrava as manifestações e que foi levado por ter sido confundido por sua aparência. Andreína Baduel, integrante de um comitê em defesa de direitos humanos, declarou que o adolescente “nem mesmo estava participando de nenhum protesto” quando foi detido.
A sentença aplicada inclui pena de prisão, além de quatro anos de trabalho comunitário. Para ONGs e advogados que acompanham casos políticos, a condenação de um menor nessas circunstâncias reforça o debate sobre garantias processuais, uso excessivo de figuras penais contra dissidentes e a proteção de adolescentes em conflitos políticos.
O episódio se insere em um cenário de alta polarização e crescente atenção internacional sobre práticas de segurança e justiça na Venezuela, onde denúncias de prisões arbitrárias e restrições a opositores seguem sendo registradas por organismos de defesa dos direitos humanos.





