
Em meio à etapa decisiva de 25 anos de negociações, o Conselho Europeu se reúne entre hoje e amanhã para decidir se aprova o texto final do acordo Mercosul-UE. Caso haja aval, a assinatura está prevista para sábado, durante a cúpula de chefs de Estado do Mercosul em Foz do Iguaçu. O tema deixa de ser apenas uma negociação comercial: envolve questões climáticas, regras ambientais e padrões sanitários que moldam o debate dentro da União Europeia. Nesta semana, o Parlamento Europeu sinalizou avanço ao incorporar salvaguardas agrícolas ao texto, o que pode destravar a etapa final.
O que está em jogo no Conselho Europeu?
Para a ratificação, o Conselho precisa alcançar uma maioria qualificada: apoio de pelo menos 15 dos 27 países, representando 65% da população da UE. Esse requisito torna cada posição nacional decisiva. França e Polônia já expressaram ceticismo, enquanto Bélgica e Áustria também sinalizam desconforto. A Itália surge como peça-chave: se o governo italiano permanecer favorável, o equilíbrio pode favorecer a aprovação; caso contrário, a rejeição de uma coalizão de adversários pode inviabilizar o acordo.
Por que o acordo é complexo para o Brasil e a UE?
O texto passou a incorporar o que especialistas chamam de propostas 2.0, que vão além do comércio e trazem compromissos ambientais, sociais e regulatórios. Uma das mudanças centrais é a chamada cláusula de proteção ambiental, que pode exigir padrões equivalentes para Mercosul e UE, elevando o custo de certos produtos e afetando a competitividade de setores sensíveis, como carnes e laticínios. Observadores ressaltam que isso aumenta a tensão entre os interesses europeus e as realidades regulatórias dos países sul-americanos, além de ampliar a complexidade de discutir questões ambientais em fóruns internacionais.
Impactos econômicos e geopolíticos
Para o Brasil, o acordo representa a abertura de um mercado de quase 450 milhões de consumidores e a possibilidade de impulso à indústria local por meio de maior competição e acesso a insumos europeus mais baratos. Contudo, os custos de conformidade ambiental e sanitária podem exigir ajustes na base produtiva brasileira. Caso o texto não seja ratificado, o Brasil tende a reforçar relações com a Ásia, especialmente a China, o que pode redesenhar o mapa de parcerias comerciais. A UE, por sua vez, enxerga no Mercosul uma via para diversificar parceiros e reduzir vulnerabilidades em um cenário internacional cada vez mais competitivo e sujeito a tensões geopolíticas.





