
Em meio a sirenes e o peso de uma guerra que molda rotinas, famílias ucranianas tentam manter laços afetivos mesmo quando a distância se mede em centenas de quilômetros e o risco é diário. Sasha, 22 anos, faz parte de uma rede de reencontros que atravessa a zona de combate para ver o marido, um militar de carreira, em uma cidade do leste. A jornada, embora longa e perigosa, simboliza a forma como muitos tentam preservar a normalidade diante do conflito.
O caminho até o reencontro: logística e perigo
Historicamente, o trem que ligava Kiev a Donetsk era a principal via de ligação entre casais e famílias. No entanto, desde novembro de 2025, ataques frequentes à infraestrutura ferroviária levaram as autoridades a suspenderem serviços para Donetsk. O trajeto foi recalibrado: o trem já não para em Kramatorsk; os passageiros costumam desembarcar em Barvinkove ou em outra localidade, obrigando a pegar ônibus para completar a viagem. Esse desvio aumenta o tempo de deslocamento e eleva a exposição a pausas forçadas, falhas de energia e embates com drones.
Casais entre a linha de frente: histórias de Sasha e Polina
Sasha, que casou recentemente, parte de Kiev ao amanhecer e chega ao destino com poucas horas para encontrar o marido, que vive em uma cidade próxima à linha de frente. Em casa, a família sabe que cada reencontro pode ser curto, mas é suficiente para reacender a esperança. Já Polina, 24 anos, conheceu Andriy em um contexto de mobilização; o tempo conjunto é ainda mais precioso, pois a distância imposta pelo conflito torna os encontros raros. Em cada passagem de trem ou de ônibus, há o peso da incerteza — se eles conseguirão se ver de novo na próxima chance.
Impacto humano: o equilíbrio entre afeto e segurança
Além do cuidado com a relação, as viagens afetam a vida diária de centenas de famílias. Enquanto a linha de frente fica a poucos quilômetros de grandes cidades, as autoridades pedem evacuações periódicas e margens de segurança, o que muda planos de moradia, trabalho e escolaridade. A experiência de quem vive entre o lar e o fronte, com o medo constante de novas hostilidades, revela uma faceta menos visível da guerra: a resistência cotidiana de quem mantém vínculos afetivos intactos sob extrema pressão.





