
Não há registro bíblico que indique o dia exato do nascimento de Jesus, e historiadores não conseguem fechar a data com certeza. Os Evangelhos apresentam relatos da infância apenas em Mateus e Lucas, enquanto os textos mais antigos do Novo Testamento não descrevem esse momento de forma cronológica. Com o tempo, a Igreja transformou essa incerteza em uma celebração anual, fixando o Natal em 25 de dezembro — uma escolha que reuniu motivações litúrgicas, políticas e culturais ao longo de séculos, atravessando o Império Romano e chegando aos dias atuais.
O que dizem Mateus e Lucas sobre o nascimento
Mateus vincula o nascimento de Jesus a um contexto de poder e políticas locais, associando-o aos acontecimentos do reino de Herodes, o Grande. Lucas, por sua vez, coloca Maria e José em Belém para cumprir um censo citado como o de Quirino, sugerindo uma cronologia diferente. Entre esses relatos há, portanto, uma diferença de pelo menos uma década, o que reforça a ideia de que os Evangelhos não foram escritos com a intenção de compor uma linha do tempo precisa da vida de Jesus. Além disso, muitos estudiosos destacam que os episódios de Mateus e Lucas sobre a infância parecem ter sido incorporados ao texto já circulante, possivelmente com objetivos teológicos ou literários, não estritamente históricos.
Outros elementos ajudam a situar Jesus no tempo: referências à morte de Herodes, o Grande, à atuação de Pôncio Pilatos e ao contexto do início da pregação de Jesus, ainda que as datas exatas permaneçam debatidas. Por isso, muitos historiadores situam o nascimento de Jesus em torno de 4 a.C., com base na cronologia de Herodes, mas há controvérsias sobre como interpretar o censo de Quirino e o desafio de alinhar os relatos evangélicos entre si.
Como surgiu a data de 25 de dezembro
A fixação de 25 de dezembro não veio dos relatos dos evangelhos nem de Dionísio, o Exíguo, cronista do século VI. A prática ganhou força entre os séculos IV e V, quando o Império Romano passou a adotar o Cristianismo como religião oficial sob Teodósio I. A data foi escolhida para cristianizar celebrações pagãs do fim do ano, como o festival do Sol Invicto, ligado ao solstício de inverno. Observava-se que o dia já começava a ficar mais longo, uma coincidência simbólica para a vida de Jesus, entendido pelos cristãos como a Luz que vence as trevas. Junto disso, a Saturnália, festa romana associada à alegria e a presentes, também influenciou a adoção de costumes festivos em torno do Natal.
Ao longo do tempo, a celebração de 25 de dezembro consolidou-se como feriado cristão, com representações artísticas que reforçam episódios do nascimento nas igrejas do Ocidente. Mesmo sem confirmação de uma data histórica do nascimento, a data se tornou um marco litúrgico que ajudou a unificar costumes, tradições e a prática religiosa ao redor do mundo.
O que isso significa para a compreensão do Natal hoje
Para historiadores e leitores, o olhar crítico sobre o nascimento de Jesus ajuda a separar o que é histórico do que é simbólico na prática natalina. A celebração de 25 de dezembro hoje funciona mais como um rito cultural e religioso que como um registro biográfico preciso. O relevante, neste debate, é reconhecer que a origem da data envolve uma teia de escolhas teológicas, calendáricas e culturais que moldaram uma das festas mais universais do calendário religioso.





