
Em meio a debates sobre o futuro do sistema público de saúde, uma imagem registrada no Cone Sul Equatoriano ganhou significativa repercussão: a mãe Yawa Sumpa, da comunidade Achuar, levou o corpo de sua bebê de um mês em uma caixa de papelão após a frustração com a assistência médica recebida em Macas e a distância até Taisha. A história, narrada a partir de relatos locais, expõe uma crise que vai além de um caso individual e revela fragilidades logísticas, distâncias e carência de insumos em hospitais públicos do país.
Crise de abastecimento e finanças da saúde
Dados oficiais apontam quedas no orçamento da saúde nos últimos anos: US$ 3,219 bilhões em 2023, US$ 2,959 bilhões em 2024 e US$ 2,798 bilhões em 2025. Além disso, até julho de 2025 apenas 34,6% do orçamento destinado à operação havia sido utilizado, sugerindo funcionamento com recursos mínimos e dificuldades para manter serviços básicos e aquisição de insumos médicos.
Desafios na prática clínica e na zona rural
Relatos de saúde pública indicam faltas persistentes de itens essenciais em hospitais, desde agulhas e cânulas até medicamentos e serviços de laboratório. Em centros urbanos como Monte Sinai e o Hospital do Guasmo, médicos descrevem estoques baixos e atrasos na oferta de insumos; na zona rural, a carência se soma a longas jornadas de deslocamento e a equipes de saúde ainda em formação, sem o apoio de especialistas para pediatria ou cirurgia.
Repercussão política e respostas institucionais
Analistas destacam que a saúde pública entrou na pauta política como um fator crítico para a gestão do governo. A consulta popular realizada em 16 de novembro resultou na rejeição das quatro propostas apresentadas pelo governo, abrindo espaço para discussões sobre orçamento, gestão e prioridades do país. O Ministério Público de Saúde informou ter adotado medidas para apurar irregularidades envolvendo a assistência de pacientes em situações de vulnerabilidade, após a divulgação da imagem simbólica da caixa com o corpo da bebê.
Contexto histórico e perspectivas
Especialistas lembram que a pandemia de covid-19 deixou marcas profundas no sistema de saúde do Equador, com impactos que se refletem na gestão de insumos, na relação entre setor público e privado e na capacidade de investimento. Sem reformas estruturais e com ajustes orçamentários que não priorizam a manutenção e a inovação, a crise de saúde pode se aprofundar e influenciar cenários políticos nos próximos anos.





