Segundo petroleiro apreendido pelos EUA nas proximidades da Venezuela ia para a China, aponta agência


O segundo petroleiro apreendido por forças dos EUA nas imediações da Venezuela exemplifica o ritmo crescente de ações de Washington contra o regime de Nicolás Maduro. A operação foi descrita como parte de uma campanha de pressão que envolve sanções, presença militar no Caribe e medidas para impedir o escoamento de petróleo venezuelano para mercados internacionais. A embarcação alvo é o VLCC Centuries, que carregava petróleo venezuelano Merey com destino à China, segundo registros internos da PDVSA, a estatal venezuelana.


O que aconteceu com o Centuries

O navio, registrado sob bandeira do Panamá e operando sob o nome de fantasia “Crag”, teria deixado as águas venezuelanas após breve escolta da Marinha local. Em seguida, foi interceptado em águas internacionais a oeste da ilha de Barbados. De acordo com documentos vistos pela Reuters, o petróleo pertencia a uma das rotas de exportação da PDVSA vendidas a intermediários, com destino a refinarias chinesas. A operação marca o segundo caso de apreensão desde o início da ofensiva norte‑americana contra o setor de energia venezuelano.


Segundo informações obtidas por meio de fontes da PDVSA, o carregamento de Merey somava aproximadamente 1,8 milhão de barris. A transação envolveu intermediárias que atuam no complexo de vendas da PDVSA para clientes na China, com a empresa Satau Tijana Oil Trading entre os nomes citados em documentos operacionais. A dupla apreensão já gerou uma onda de críticas de Caracas e de aliados regionais, que veem as ações como parte de uma estratégia de contenção econômica.

Contexto geopolítico: sanções, frota fantasma e pressões americanas

Desde 2019, os EUA impõem sanções ao setor de energia venezuelano, visando pressionar Maduro a mudanças políticas. Em meio a esse cenário, países sancionados passaram a recorrer a uma prática de ocultação de origens do petróleo — a chamada “frota fantasma” — que envolve o uso de bandeiras menos identificáveis e nomes falsos para disfarçar o carregamento de crude venezuelano destinado a compradores internacionais, inclusive na China, Irã e Rússia. Dados de agências e organizações indicam que parte relevante do petróleo bruto venezuelano circula por vias que dificultam o rastreamento, complicando a aplicação de sanções.

A Venezuela também é retratada como detentora de uma das maiores reservas de petróleo do planeta, ainda que grande parte de seu petróleo seja do tipo pesado, exigindo tecnologia avançada para refino. A China figura entre os principais compradores de crude venezuelano, respondendo por uma parcela significativa das importações do país asiático. Analistas estimam que, mesmo com o embargo, o fluxo para a China permanece relevante, com operações que, por ora, exigem estruturas de crédito e logística adaptadas a sanções internacionais.

Além das implicações para o mercado, a logística de exportação venezuelana — e o próprio papel da China no tabuleiro — ganham importância estratégica. A volatilidade esperada nos preços do petróleo, caso as restrições se mantenham ou se intensifiquem, pode afetar o equilíbrio entre oferta e demanda global, especialmente em um momento de ajustes macroeconômicos e tensões geopolíticas regionais.

Reações, desdobramentos e próximos passos

O governo de Maduro denunciou a apreensão como um ato de pirataria internacional e afirmou que a proteção de seus navios continuará em parceria com a Marinha. Caracas também destacou que enfrentaria esse tipo de intervenção com apoio de aliados, incluindo Irã e Rússia, que já manifestaram disposição de cooperação para enfrentar o que chamam de agressões norte‑americanas.

Do lado norte‑americano, autoridades enfatizam a necessidade de interceptar operações que financiam atividades ilícitas e o contrabando de drogas, incluindo fentanil, que, segundo Washington, tem sido transportado por navios ligados à rede de sanções venezuelanas. A comunidade internacional, por sua vez, aguarda desdobramentos diplomáticos, com a expectativa de reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a escalada de tensões entre EUA e Venezuela, bem como o papel de atores externos nesse conflito.