Lula revela que Meloni pediu prazo para viabilizar o acordo UE-Mercosul; disputa na Europa se intensifica entre salvaguardas e pressões agrícolas


Em meio a discussões no Conselho Europeu sobre a viabilidade do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter conversado por telefone com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. Segundo Lula, Meloni pediu tempo para convencer os agricultores italianos e viabilizar a assinatura do tratado, reiterando que não é contra o acordo, mas enfrenta um obstáculo político decorrente da pressão do setor rural. A declaração ocorre num momento em que líderes da UE avaliam o texto e tenta-se avançar em uma matéria que divide a França, Alemanha e Espanha.


O pedido de tempo e o que isso implica

De acordo com o relato de Lula, Meloni sugeriu um período de paciência — entre uma semana, dez dias ou, no máximo, um mês — para consolidar o apoio dos agricultores italianos. O presidente afirmou que, caso haja esse espaço, levará a posição italiana à reunião do Mercosul e proporá aos parceiros que decidam sobre o próximo passo. A Itália, conforme descrito, não se opõe ao tratado, mas sinaliza um entrave político que pode atrasar a assinatura.


Reações na União Europeia e próximos desdobramentos

Na mesma linha, o presidente da França, Emmanuel Macron, indicou que não apoiará o acordo sem novas salvaguardas para seus agricultores. Em contrapartida, o chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defenderam o avanço do texto. O trio de posições demonstra a dificuldade de concluir a negociação, apesar de o Parlamento Europeu já ter adotado medidas de proteção a setores sensíveis, com mecanismos de monitoramento de impacto.

Se o Conselho Europeu aprovar o texto, a assinatura do acordo deve ocorrer no fim de semana, em Foz do Iguaçu, durante a cúpula entre chefes de Estado do Mercosul. O tratado, que visa reduzir tarifas entre os blocos, é fruto de longas negociações de aproximadamente 25 anos entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e outros membros do Mercosul, e a União Europeia.

Contexto estratégico: por que o acerto divide análises

Para os europeus, o principal ponto de contenção envolve padrões ambientais e salvaguardas que mitiguem impactos sobre mercados sensíveis, especialmente agroindústrias como carne, açúcar e aves. A França, mantendo a cautela, já havia buscado garantias adicionais mediante a União Europeia. Do lado brasileiro, o acordo é visto como oportunidade de ampliar trocas comerciais e integrar blocos com potencial de crescimento, embora dependa de consensos dentro do Conselho e de acomodar sensibilidade política de Estados-mares europeus diante de pressões internas.