
Chile elege presidente neste domingo: extrema-direita favorita com proposta de deportar 340 mil imigrantes e erguer muro na fronteira
Favoritismo de Kast e polarização em torno da segurança
O Chile realiza neste domingo a eleição presidencial em que a candidatura de extrema-direita de José Antonio Kast aparece como favorita em todas as pesquisas. Kast, de 59 anos e líder do Partido Republicano, teve desempenho consistente nas intenções de voto ao longo das semanas finais e concentra apoio com um discurso centrado no combate à criminalidade e ao que chama de ‘insegurança nas ruas’.
Propostas de fronteira e deportação em massa
Entre as medidas mais emblemáticas da campanha de Kast está a promessa de deter e expulsar quase 340 mil imigrantes em situação irregular, maioria venezuelanos, que vivem no país. Seu plano inclui um ‘escudo fronteiriço’ com ações como a construção de um muro na fronteira com a Bolívia, a escavação de trincheiras e a mobilização de 3.000 militares para conter entradas clandestinas.
Além disso, o candidato defende mais poder de fogo para as polícias e o envio de militares a regiões consideradas críticas pela escalada da violência. Kast já declarou no passado apoio ao legado da ditadura de Augusto Pinochet, embora afirme hoje ser um democrata.
Oponente de esquerda e propostas sociais
A adversária no segundo turno é Jeanette Jara, de 51 anos, ex-ministra do Trabalho e militante do Partido Comunista. Jara defende medidas sociais para reduzir a desigualdade, entre elas o aumento do salário mínimo para o equivalente a quase US$ 800 (cerca de R$ 4.340 na cotação mencionada pela campanha), e prioriza políticas de emprego, salário e proteção social.
Seu plano de imigração é mais moderado: controlar entradas por passagens clandestinas, realizar um censo dos imigrantes sem documentos e identificar aqueles com antecedentes criminais para posterior expulsão quando for o caso. Como ministra, Jara trabalhou na redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas e em uma reforma no sistema de pensões, medidas que elevaram seu perfil público.
Contexto: insegurança e evolução da criminalidade
A percepção de insegurança pesa fortemente na disputa. Uma pesquisa do instituto Ipsos divulgada em outubro indicou que 63% dos chilenos apontam atividades criminosas e violência como a principal preocupação. Dados oficiais mostram que a taxa de homicídios passou de 2,5 para 6 por 100.000 habitantes na última década, um aumento de cerca de 140%. O Ministério Público registrou 868 casos de sequestro no ano passado, alta de 76% em comparação com 2021.
Analistas destacam que a direita soube capitalizar esse sentimento. ‘A forte percepção de insegurança desempenha um papel muito importante na política, especialmente na política eleitoral. A direita soube instrumentalizar isso para se beneficiar’, afirmou Guillaume Long, do Centro de Estudos Econômicos e Políticos, com sede em Washington.
Alternância e lições das reformas constitucionais
Desde 2010, o Chile vive uma alternância entre direita e esquerda a cada eleição presidencial. As tentativas recentes de reformar a Constituição herdada do período de Pinochet fracassaram em votações populares: primeiro um projeto de inspiração mais à esquerda e depois uma proposta mais conservadora não foram aprovadas, deixando pendente a promessa de mudanças profundas no sistema de saúde, educação e previdência.
Kast disputa pela terceira vez a Presidência; em 2017 e 2021 teve protagonismo nacional, perdendo o segundo turno de 2021 para Gabriel Boric. Jara, por outro lado, carrega a marca de décadas de militância no Partido Comunista, o que também mobiliza resistência por parte de eleitores que temem um rótulo anticomunista. ‘Há um fantasma (de anticomunismo) que sempre acompanha qualquer candidatura comunista e, efetivamente, pesou muito para Jara’, avalia o analista Alejandro Olivares, da Escola de Governo da Universidade do Chile.
O que está em jogo
Além da escolha de políticas de segurança e migração, a eleição definirá o rumo das reformas econômicas e sociais do país em um momento de forte polarização política. Para parte do eleitorado, vencer a sensação de insegurança é prioridade; para outra, aprofundar políticas sociais e redistributivas é essencial para reduzir desigualdades persistentes.
O resultado terá impacto direto na estabilidade política do Chile e na percepção internacional sobre a direção do país, que nos últimos anos tem oscilado entre propostas de consolidação de direitos sociais e agendas mais conservadoras de ordem pública.
As urnas se fecham ao fim do dia, quando as primeiras projeções e análises vão começar a desenhar o quadro do novo governo chileno.





