Cessar-fogo anunciado por Trump não freia confrontos: Tailândia segue atacando Camboja perto de templos Khmer e já causa mais de 500 mil deslocados


Cessar-fogo anunciado por Trump não freia confrontos: Tailândia segue atacando Camboja perto de templos Khmer e já causa mais de 500 mil deslocados

Horas após anúncio de acordo nas redes sociais do presidente dos EUA, os dois países trocaram acusações e ataques; ao menos 20 mortos e grande êxodo de civis marcam o sétimo dia de hostilidades

Horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que Tailândia e Camboja haviam concordado um cessar‑fogo, as forças tailandesas anunciaram a continuidade das operações militares contra o vizinho. O primeiro‑ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, disse que o país “continuará realizando ações militares até que consideremos que nosso território e nosso povo não estejam mais ameaçados”.


A retomada das hostilidades entrou no sétimo dia e já deixou um rastro de vítimas e deslocamento: autoridades relatam pelo menos 20 mortos e mais de 500 mil moradores fugiram da zona de fronteira, segundo as informações divulgadas pelas autoridades e reportagem internacional.


O que ocorreu depois do anúncio de cessar‑fogo

Na manhã seguinte à publicação de Trump, que afirmou ter conversado com os primeiros‑ministros de Bangkok e Phnom Penh e apontou que ambos “concordaram em cessar‑fogo a partir desta noite”, autoridades tailandesas confirmaram ataques de retaliação. Um porta‑voz militar relatou que aeronaves da Tailândia destruíram duas pontes no Camboja alegadamente usadas para transportar armas ao campo de batalha.

As forças aéreas tailandesas afirmaram empregar “armas de alta precisão para evitar danos a civis inocentes”, segundo declaração oficial. Do lado cambojano, o Ministério da Defesa declarou que caças F‑16 tailandeses lançaram bombas contra alvos civis e militares, e o ministro da Informação, Neth Pheaktra, acusou Bangkok de expandir ataques para infraestrutura civil.

Reivindicações e acusações entre os governos

Ambos os governos trocam versões sobre quem iniciou a escalada atual. O premiê cambojano, Hun Manet, afirmou que o Camboja sempre privilegiou meios pacíficos e sugeriu que os Estados Unidos e a Malásia usem recursos de inteligência para verificar “qual lado abriu fogo primeiro” no início de dezembro. Já o chefe do Executivo tailandês acusou o vizinho de violar acordos e disse que “quem violou o acordo deve resolver a situação”.

O impasse diplomático ganha contornos políticos internos: Anutin dissolveu o Parlamento tailandês em meio à crise, e eleições estão previstas para o início de 2026, num momento em que o governo busca justificar a ação militar diante da opinião pública.

Impacto humanitário e risco de escalada

O conflito tem provocado um êxodo em massa das áreas fronteiriças, onde comunidades rurais vivem próximas a sítios arqueológicos e templos do antigo Império Khmer. Relatos de destruição de pontes e ataques a infraestrutura aumentam o temor de corte de acesso a alimentos, água e socorro médico. Agências humanitárias e governos regionais manifestaram preocupação com o número crescente de deslocados e com a possibilidade de agravamento da crise humanitária.

Ao menos 43 pessoas haviam morrido durante uma onda anterior de confrontos em julho, antes de um cessar‑fogo mediado por Estados Unidos, China e Malásia. Em 26 de outubro, Tailândia e Camboja assinaram um novo acordo de cessar‑fogo intermediado por Trump, mas Bangkok suspendeu o tratado semanas depois, após a explosão de uma mina terrestre que feriu soldados tailandeses.

Contexto histórico e papel da comunidade internacional

A disputa entre Tailândia e Camboja tem raízes antigas: a delimitação da fronteira, de cerca de 800 quilômetros, remonta ao período colonial e envolve pequenas faixas de território onde se situam templos do Império Khmer. A região voltou a ser ponto de tensão nos últimos meses, alternando períodos de calmaria e surtos de violência.

Organizações internacionais, países da região e potências externas têm papel de mediação — a Malásia detém a presidência rotativa da ASEAN e participou das tratativas anteriores. A declaração de Trump sobre um acordo temporário de cessar‑fogo e a promessa de retomada de comércio com os Estados Unidos não impediram, por ora, a continuidade dos confrontos.

Analistas dizem que a falta de verificação independente sobre o que desencadeou a atual escalada e a presença de narrativas conflituosas ampliam o risco de novas hostilidades. Até que haja inspeção internacional ou um mecanismo confiável de monitoramento, a situação na fronteira permanece instável, com elevado custo humanitário para civis de ambos os lados.

As próximas horas são consideradas críticas: a comunidade internacional tem pressionado por investigações e por medidas para proteger civis, enquanto líderes dos dois países oscilam entre declarações de disposição para negociar e continuísmo operacional no terreno.